Este é um tema que nos afeta a todos. Os compromissos
que temos de assumir perante a sociedade e perante os outros acorrentam-nos, e
como nos acorrentam!
Todos os assuntos
abordados neste blogue são da minha autoria, mas sempre baseados em inúmeras
conversas com amigos, família e até desconhecidos, experiências pessoais e experiências
alheias. Dito isto, vamos ao assunto que me traz até vós hoje.
O compromisso de ser boa
pessoa, bom filho, bom pai, bom irmão, bom profissional… bom, bom, bom. Temos
de ser bons em tudo. O ideal é ser mesmo muito bom. Ou mais do que bom, se for
possível. Tudo é um compromisso hoje em dia. Tornamo-nos peritos nisto tudo, menos no essencial – não somos (nada) bons em comprometermo-nos com a nossa
felicidade, com a nossa liberdade, com o nosso eu e com as necessidades que ele
nos grita o tempo todo. E nós? Fingimos não ouvir. É cómodo e já somos bons em
tanta coisa, para que é que temos de nos preocupar em ser felizes? Isso é assim
tão importante? Pensemos bem: temos uma casa confortável, um carro bastante
porreiro, um emprego que paga as comodidades, toda a gente à nossa volta tem
orgulho de nós, então para quê preocuparmo-nos em sermos realmente felizes?
Aliás, não será já isto ser feliz? Não, na grande maioria das vezes, não é.
Quem o diz? As próprias pessoas, nos cinco segundos em que conseguem olhar para
dentro de si mesmas e dizer a verdade, sem medos, nem correntes.
O maior compromisso tem
de ser com nós mesmos – este é o mais válido, o mais importante, o único
através do qual toda a nossa existência terá (ou não) sentido. Temos a
obrigação de nos comprometer com nós mesmos e com a nossa felicidade.
Infelizmente é o compromisso no qual mais falhamos. Porquê? Cada um terá os seus
motivos, que defenderá com unhas e dentes, que dirão ser motivos válidos e
dirão até que são felizes, à sua maneira. Talvez sejam. Talvez haja pessoas que
precisam de muito pouco para serem felizes. Por vezes, o melhor mesmo é nem olhar para dentro, é não ver e nem ouvir o que a nossa alma nos pede.
Após muitas conversas e
ouvir muitos relatos, percebo que alguns fatores contribuem para que nunca
assumamos o compromisso de sermos felizes, eu digo extremamente felizes, não
aquela felicidade mundana de quem consegue comprar um carro novo. Eu falo de
felicidade real. O contexto social, o contexto económico, as relações
familiares, mas o maior e mais predominante, aquele que aparece de mãos dadas com
todos estes que eu referi, é a fragilidade emocional. Algo de cura muito
difícil.
Ter de agradar a todos,
fazer tudo corretamente, não desiludir a família, casamentos falhados mas que
têm de ser para a vida, amigos que só gostam de nós pelo que nós parecemos ser
e não por aquilo que nós realmente somos, possuir bens para que as pessoas
vejam que podem confiar em nós e admirar-nos porque nós somos bem-sucedidos.
Sim, de alguma forma o poder e ser bem-sucedido atrai as pessoas, nunca percebi
porquê – um dia falaremos disso. Bem, eu poderia estar aqui a enumerar fatores
até 2050.
Existe todo este enorme
compromisso que assumimos perante o mundo inteiro e falhamos connosco próprios.
E não nos importamos. Já chegámos ao ponto onde isso já não importa, desde que
tenhamos uma vida confortável.
Em conversas
com pessoas próximas, eu realizei que o medo, o pânico, o terror de tentar ser
feliz assombra até os mais audazes. O medo do desconhecido incapacita as
pessoas. Trocar o certo pelo incerto. Sair da zona de conforto. Isto levou-me ao título deste artigo:
compromisso ou escravidão? Vivemos comprometidos ou vivemos escravos? Já não
somos escravos dos senhores das terras, mas somos escravos de nós mesmos. Auto
escravizamo-nos. O ponto a que o ser humano chegou assusta-me. Assusta-me tanto.
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Querer ser feliz e fazer
disso um objetivo de vida parece algo ridículo de se dizer na sociedade de hoje
em dia. Perdeu-se a coragem, a bravura, a lealdade. Venceu a hipocrisia, o
fingimento. Vendeu-se a alma ao diabo porque é conveniente aos olhos de alguém, por vezes até aos nossos próprios olhos isso já é aceitável.
As pessoas enganam-se a si mesmas e vivem felizes com isso. Seja lá o que eles
consideram que ser feliz é.
Deixo-vos com uma
metáfora inventada por mim. Ocorreu-me e pareceu indicada para terminar este
artigo. Um pensamento que está dentro de tantas e tantas mentes, espalhadas por
esse mundo fora.
«Eu não vou deixar o meu
sofá de 3.000 euros para dormir no chão de um T0 imundo onde não terei nada,
apenas liberdade…»
Bom fim de semana e já
sabem: a vossa opinião importa!
JB