Eu já devo ter escrito sobre esta questão, se não escrevi já o deveria ter
feito. Sou da opinião que partilhar emoções e pensamentos ajuda a encontrar
respostas para perguntas difíceis.
Vejamos. Eu acho bonito uma pessoa dizer que respeita todos os seres
humanos: as suas opiniões, os seus credos, os seus pensamentos, as suas emoções
e por aí fora. Isso é tudo muito bonito na teoria. Quando nos vemos realmente
confrontados com situações que colocam em evidência as diferenças entre nós e
os outros, começam as discussões, os argumentos e, muitas vezes, a coisa corre
mal. Corre mal entre amigos, conhecidos, família, colegas – geram-se discussões
que, por vezes, são muito complicadas de resolver. Desde uma simples diferença
de gostos a grandes diferenças de personalidade, a coisa pode tornar-se séria.
Famílias deixam de se falar, amigos discutem, casais separam-se. É bastante
difícil lidar com a diferença.
É fundamental haver respeito entre nós e os outros, entre as nossas
opiniões e as opiniões dos outros. Não porque os livros e os especialistas em
comportamento humano nos dizem que deve ser assim, mas porque nós precisamos de
viver/conviver com os outros, somos seres sociais. Bem, eu confesso que não sou
assim tão social, e a tendência é a ser cada vez mais seletiva no que toca às
pessoas com quem eu interajo. Mas mesmo com um curto círculo de pessoas à nossa
volta, há sempre diferenças.
Porque é então tão difícil aceitarmos que somos diferentes?
Porque o ser humano é um ser complexo e muito emocional. De alguma forma,
nós gostamos da aprovação dos outros. Quando alguém nos expõe o seu ponto de
vista diferente, a nossa tendência é julgar imediatamente. É intrínseco ao ser
humano este tipo de comportamento. Nós gostamos que os outros pensem como nós,
ajam como nós, sejam como nós. Esses dogmas sobre os opostos não me convencem.
Quando alguém concorda connosco, apoia a nossa opinião, nós sentimo-nos
valorizados e apreciados. Nós pensamos “esta pessoa gosta da minha
personalidade, que bom, eu estou certo, estou a fazer as coisas bem, eu sou um
exemplo”. Nós, humanos, somos tão vaidosos, até no carácter. Nós gostamos que
gostem de nós e das coisas que nós gostamos. O pior é que, na realidade, nós
gostamos que os outros sejam como nós. Quão pretensiosos nós somos.
Eu aprendi, no meu contacto com variadas pessoas, que eu cometo estes
mesmos erros. É tão importante ter bondade e disponibilidade para ouvir os
outros. Tentar compreender e demonstrar interesse na pessoa que age tão
diferente de nós é crucial. Nós podemos ser diferentes e conviver com civismo e
compaixão. Mesmo que nós não concordemos com o que é dito, porque não
procuramos entender as motivações que estão por detrás daquela posição tão
diferente da nossa? Isto eu faço. Eu tento compreender de milhares de maneiras
as razões que levam alguém a ser tão diferente de mim. Nem sempre eu sou
bem-sucedida, tenho a impressão de que as pessoas entendem este ato como já ele
em si um julgamento. Afinal eu estou meio que a perguntar “Porque pensas
assim?”. Totalmente errado na minha opinião. É importante entender os outros e
para que isso aconteça têm de haver perguntas e respostas. As pessoas têm de
estar abertas a dialogar – isto é algo que falta tantas, mas tantas vezes,
entre duas pessoas diferentes. As pessoas são seres difíceis, se não estamos
preparados para elas, então sim, o melhor é afastarmo-nos.
Mas, antes de terminar este meu desabafo, há algo que eu tenho que frisar
aqui: personalidades diferentes são uma coisa. Falhas de carácter são outra.
Não são passíveis de ser entendidas e nem devem ser. Há pessoas que realmente
não prestam, há pessoas cujas ideologias colidem com as nossas no sentido moral
e aí meus caros, não há nada a fazer – essas pessoas teriam de nascer de novo
ou reinventarem-se a 100%. Eu não posso sentir respeito por uma pessoa
mentirosa e aceitar isso. Sejamos claros quanto a isso. Aceitar as diferentes
opiniões, posições ou gostos – tudo bem. Aceitar mentiras, falhas, deslealdade,
bem isso não é ser diferente, isso é não ter carácter e isso não deve ser
aceite por ninguém. Há pessoas que têm graves falhas na estrutura de todo o seu
ser. Atenção a isso.
O que vocês acham que o ser humano pode fazer para ser mais compreensivo
com o seu semelhante?
JB