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quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Que toque a música…

Esta semana deu-me para passear pelas lembranças dos gloriosos anos 80 e 90, musicalmente falando. Contagiada pela magia de grandes lendas, a música cedo entrou na minha vida. Daí por diante teve sempre um papel importante. Minha companheira nos bons e nos maus momentos, como um casamento. Sei exatamente o que ouvir, consoante o estado de espírito. E ajuda muito, acreditem. É terapia mesmo.
Mensagens fortes, puras e duras. O nosso “outro” lado desmistificado e tratado sem pudores. As duas faces da moeda. O certo e o errado. O santo e o pecador. As injustiças, as frustrações, amores e desamores. Estava tudo lá, havia espaço para todas as emoções: as boas e as menos boas (porque apesar dos pesares não deixavam de o ser). Éramos uma espécie de rebeldes sem causa, mas conscientes do mundo à nossa volta.
                                                                                                 
Como me lembro das paixões assolapadas e da admiração que tínhamos pelas nossas bandas preferidas. Sem desprimor para qualquer género ou época, tenho de dizer que aqueles tempos foram verdadeiramente valiosos em termos musicais. Os artistas arrastavam verdadeiras legiões de fãs dedicados (que felizmente ainda encontro por aí).
Quem nunca colou nas paredes do quarto posters de todos os tamanhos possíveis e imaginários com os seus ídolos? Eu posso mesmo dizer que quase forrei o meu, após uma longa batalha com a minha mãe, que teimava em dizer que as paredes não eram para colar aquelas porcarias como ela lhes chamava. Depois de muita insistência, levei a minha avante com a condição de me responsabilizar pela perfeita conservação do meu território. E assim foi.

Todas as semanas, religiosamente, corríamos atrás de uma ou outra revista que oferecesse a reportagem mais completa ou o poster maior. E aquele quarto de repente passava a ser o meu “palco”, como se me colocasse um pouco mais perto deles, dos meus preferidos.
Passávamos semanas, se não meses, a juntar os magros escudos (sim escudos) para comprar as cassetes ou os vinis das bandas que mereciam a nossa admiração. E que saudades dos “gira-discos” e dos leitores de cassetes. Era uma questão de honra: comprar o original, quase acabadinho de sair. Bem, nem imaginam (ou alguns talvez imaginem) o orgulho com que exibíamos os nossos pequenos tesouros. Guardo uns quantos.

Foram tempos de boa música. Letras e melodias imortalizadas, que ainda hoje ouço, quase como se fossem hits contemporâneos. E imediatamente a minha mente voa no tempo.
Hoje as coisas estão diferentes. Não se compra muita música. Para quê, se ela está ali à mão de semear? Não podemos censurar, dada a dificuldade dos tempos. Mas eu, aluna orgulhosa da old school, ainda corro atrás dos originais que vão saindo.


E os concertos? Como era difícil convencer os pais a deixarem-nos ir, nas raras oportunidades em que as bandas visitavam o nosso país. “- Vá lá, prometo que vão adultos connosco e que me porto bem”. “- Oh, é só desta vez. Nunca peço nada e porto-me bem na escola”. Estas eram algumas das nossas armas. Mas era difícil. E era preciso encontrar, de facto, um adulto que fosse cool (do nosso ponto de vista, está claro) e fizesse o favor de nos acompanhar. Só assim (e não era garantido).
Lembro-me de quando se confirmou a notícia da vinda de Guns n’ Roses a Portugal. Estava eu nos meus sweet sixteen. Encetei uma longa luta com os meus pais, que achavam que ainda não era apropriado deixarem-me ir ver um concerto de “malucos”, era muito nova. Lembro-me de como achei que se não os conseguisse demover teria uma coisinha má, seria uma tragédia. Sim, esta é outra das características da adolescência, achamos que tudo é o fim do mundo. Mas não foi.
Uns anitos depois, mais um grande nome. Era altura da faculdade, já gozava de alguma confiança e liberdade e os meus pais lá assentiram, sem grandes ondas, depois de lhes repetir umas 30 vezes com quem ia, onde era o concerto e por aí. E lembro-me como se fosse hoje, Bon Jovi. As borboletas na barriga. Ainda guardo o bilhete comigo. Felizmente, desde então, já consegui guardar mais uns quantos.

Ainda nessa época, assisti pesarosa ao desaparecimento de algumas figuras e bandas que eram uma inspiração para um bando de jovens sonhadores como eu. Alguns por fatalidade, outros nunca soubemos muito bem por que motivos. Freddie Mercury, Kurt Cobain. Nunca serão esquecidos. Guns n´Roses: golpe rude para os seus seguidores (que era praticamente toda a gente que eu conhecia na altura). “Como podem eles fazer-nos isto, a nós que gostamos tanto deles?”, lembro-me de pensar.
Gostos e preferências à parte, havia magia nesta maneira de sentir a música. Os novos fãs terão outros hábitos, possivelmente. Não sei se ainda forram as paredes com posters. Eu forrava. E ainda guardo religiosamente esses retalhos que antes adornavam as minhas paredes. Que patetice não é? Mas a alegria que isso me trazia compensava tudo.

“Remember the first time you went to a show and saw your favorite band. You wore their shirt, and sang every word. You didn't know anything about scene politics, haircuts, or what was cool. All you knew was that this music made you feel different (…). Someone finally understood you. This is what music is about.” – Gerard Way




Ariel B. L.