Esta
semana deu-me para passear pelas lembranças dos gloriosos anos 80 e 90, musicalmente falando. Contagiada pela magia de grandes lendas,
a música cedo entrou na minha vida. Daí por diante teve sempre um
papel importante. Minha companheira nos bons
e nos maus momentos, como um
casamento. Sei exatamente o que ouvir, consoante o estado de espírito. E ajuda muito,
acreditem. É terapia mesmo.
Mensagens
fortes, puras e duras. O nosso “outro” lado desmistificado e tratado
sem pudores. As duas faces da moeda.
O certo e o errado. O santo e o pecador. As injustiças, as frustrações,
amores e desamores. Estava tudo lá, havia espaço para todas as emoções: as boas e as menos boas
(porque apesar dos pesares não deixavam de o ser). Éramos uma espécie de rebeldes sem causa, mas conscientes do mundo à nossa volta.
Como
me lembro das paixões assolapadas e
da admiração que tínhamos pelas nossas bandas
preferidas. Sem desprimor para qualquer género ou época, tenho de dizer que
aqueles tempos foram verdadeiramente valiosos em termos musicais. Os artistas arrastavam verdadeiras legiões
de fãs dedicados (que felizmente
ainda encontro por aí).
Quem
nunca colou nas paredes do quarto posters
de todos os tamanhos possíveis e imaginários com os seus ídolos? Eu posso mesmo dizer que quase
forrei o meu, após uma longa batalha com a minha mãe, que teimava em dizer que
as paredes não eram para colar aquelas porcarias como ela lhes chamava. Depois
de muita insistência, levei a minha avante com a condição de me responsabilizar
pela perfeita conservação do meu território. E assim foi.
Todas
as semanas, religiosamente, corríamos atrás de uma ou outra revista que oferecesse a reportagem mais completa ou o poster maior. E aquele quarto de repente
passava a ser o meu “palco”, como se
me colocasse um pouco mais perto deles, dos meus preferidos.
Passávamos
semanas, se não meses, a juntar os magros
escudos (sim escudos) para comprar as cassetes
ou os vinis das bandas que mereciam
a nossa admiração. E que saudades dos “gira-discos”
e dos leitores de cassetes. Era uma
questão de honra: comprar o original,
quase acabadinho de sair. Bem, nem imaginam (ou alguns talvez imaginem) o
orgulho com que exibíamos os nossos pequenos
tesouros. Guardo uns quantos.
Foram
tempos de boa música. Letras e melodias imortalizadas, que ainda hoje
ouço, quase como se fossem hits contemporâneos. E imediatamente
a minha mente voa no tempo.
Hoje
as coisas estão diferentes. Não se compra muita música. Para quê, se ela está ali à mão de semear? Não podemos
censurar, dada a dificuldade dos tempos. Mas eu, aluna orgulhosa da “old
school”, ainda corro atrás dos originais
que vão saindo.
E
os concertos? Como era difícil
convencer os pais a deixarem-nos ir,
nas raras oportunidades em que as bandas visitavam o nosso país. “- Vá lá,
prometo que vão adultos connosco e que me porto bem”. “- Oh, é só desta vez.
Nunca peço nada e porto-me bem na escola”. Estas eram algumas das nossas armas.
Mas era difícil. E era preciso encontrar, de facto, um adulto que fosse “cool”
(do nosso ponto de vista, está claro) e fizesse o favor de nos acompanhar. Só
assim (e não era garantido).
Lembro-me
de quando se confirmou a notícia da vinda de Guns n’ Roses a Portugal. Estava eu nos meus “sweet sixteen”. Encetei
uma longa luta com os meus pais, que achavam que ainda não era apropriado
deixarem-me ir ver um concerto de “malucos”, era muito nova. Lembro-me de como
achei que se não os conseguisse demover teria uma coisinha má, seria uma
tragédia. Sim, esta é outra das características da adolescência, achamos que
tudo é o fim do mundo. Mas não foi.
Uns
anitos depois, mais um grande nome. Era altura da faculdade, já gozava de
alguma confiança e liberdade e os meus pais lá assentiram,
sem grandes ondas, depois de lhes repetir umas 30 vezes com quem ia, onde era o
concerto e por aí. E lembro-me como se fosse hoje, Bon Jovi. As borboletas na barriga. Ainda guardo o bilhete comigo. Felizmente, desde
então, já consegui guardar mais uns quantos.
Ainda
nessa época, assisti pesarosa ao desaparecimento
de algumas figuras e bandas que eram uma inspiração para um bando de jovens sonhadores como eu. Alguns por
fatalidade, outros nunca soubemos muito bem por que motivos. Freddie Mercury, Kurt Cobain. Nunca serão esquecidos. Guns n´Roses: golpe rude para os seus seguidores (que era
praticamente toda a gente que eu conhecia na altura). “Como podem eles
fazer-nos isto, a nós que gostamos tanto deles?”, lembro-me de pensar.
Gostos
e preferências à parte, havia magia
nesta maneira de sentir a música. Os novos fãs terão outros
hábitos, possivelmente. Não sei se ainda forram as paredes com posters. Eu forrava. E ainda guardo
religiosamente esses retalhos que antes adornavam as minhas paredes. Que
patetice não é? Mas a alegria que isso me trazia compensava tudo.
“Remember the first time you went to a show and saw
your favorite band. You wore their shirt, and sang every word. You didn't know
anything about scene politics, haircuts, or what was cool. All you knew was
that this music made you feel different (…). Someone finally understood you.
This is what music is about.” – Gerard Way
Ariel B. L.