Sentados no nosso canto,
dedicamo-nos por vezes à “árdua” tarefa de observar os comportamentos de quem
cruza o nosso caminho. Olhamos para os rostos (anónimos ou não) dos transeuntes
e perguntamos-nos o que irá na cabeça de cada um. Sentir-se-ão felizes? Estarão
satisfeitos com a vida que levam? Que sonhos terão? De repente, um turbilhão de
perguntas e cenários vêm-nos à mente. Cada ser humano encerra em si um “mundo”.
Há emoções, ambições, sonhos, povoados de lugares secretos e aventuras
empolgantes. E que interessante é poder observá-los em silêncio.
E, pelo meio, damos por nós
umas quantas vezes com o ouvido na conversa alheia, não porque procuremos
informação que não nos diz respeito, mas porque quem o faz se mostra
despudorado em partilhá-la. E assim, de modo quase surpreendente, fica
descoberta a nossa capacidade de representação. Já dizia Shakespeare que “o
mundo inteiro é um palco e todos os homens e mulheres meros atores”. De facto,
nada mais acertado e intemporal. Todos temos os nossos papéis e cabe-nos a
tarefa de os representar da melhor forma
que soubermos. Mas até que ponto devemos ou podemos fazê-lo?
Há certos desempenhos de
que nos vamos dando conta nos bastidores deste palco que é vida que dão, no mínimo, que pensar. A facilidade com que alguns “atores” vão, num ápice, da “pancadinha” nas costas à
“facadinha” da praxe ( e não são as académicas, isso daria outros tantos
parágrafos)... Impressionante! Ou porque o fulano tal se veste mal, ou porque tem
a mania que é “chico-esperto”, ou porque fala pouco e é antipático, vamos
criando uma lista interminável que culmina, grosso modo, com o julgamento. E
como neste julgamento somos o juiz, o problema nunca somos nós, é o outro. Há
uma deslealdade latente. Quer seja para
com o estranho por quem passamos ou o colega de trabalho que cumprimentamos apenas
para sermos politicamente corretos. Por vezes até o amigo de muitos anos vai a
“tribunal”.
Agiremos assim, de forma
dissimulada, procurando algum tipo de inexplicável regozijo ou proteção? Ou limitamo-nos
a desempenhar o nosso papel, tentando parecer o que não somos, vestindo ao lobo
a pele do cordeiro?
De onde virá esta
necessidade de julgar? Será por acharmos que estamos também sempre na berlinda?
Seja como for, o respeito pelo espaço e liberdade do próximo parece estar em vias
de extinção. Hoje vemos as pessoas como trampolins, como um meio para alcançar
um fim. E os fins podem ser os mais variados. O primeiro pensamento parece ser
sempre “ que benefícios poderei tirar da interação com este ou aquele?

Teremos a capacidade de “sair”
de nós próprios e avaliar a forma como tratamos os outros? Conseguiremos fechar
a porta às tentações e manter-nos fiéis às nossas crenças? Será demasiado arriscado
querer ser verdadeiro ou procurar quem o seja? Ou será este um “bem” escasso?
No fim de contas, poderá alguém
ser, na realidade, o que não é? E há
muitos lobos por aí, acreditem.
Texto Escrito por Ariel B. L.