Quem nunca foi atingido desta maneira? Tenho sérias dúvidas de que alguém consiga passar por esta vida sem ser
abalroado pelas partidas de mau gosto que a vida gosta de pregar. São aquelas
partidas muito feias e sombrias que nós sempre achamos que nunca nos vão
acontecer.
Já alguma vez se sentiram atingidos
desta maneira? Como se tivessem sido atropelados por um camião? E quando tentam
levantar-se, ele faz marcha à trás e atropela-vos de novo? É esmagador. Eu
venho aprendendo muito sobre este sentimento nos últimos tempos.
Não é fácil manter a clareza no
pensamento nestes momentos. Uma pessoa sente-se encurralada, sente-se
impotente, sente-se menor do que um grão de areia.
Não venho dar-vos conselhos. Venho apenas partilhar que, apesar de uma dor imensa,
intensa e extremamente poderosa, não podemos deixar de acreditar que vida vale
totalmente a pena. Sim, vale a pena. Vale a pena viver
para experienciar a aventura, o prazer, a amizade, as viagens, vale a pena
sentir o cheiro das flores, a brisa fresca no rosto, a música, os livros, o
amor.
Há muito tempo que eu parei de
questionar os desígnios da vida. Não é que eu não sinta vontade de o fazer,
porque eu tenho, mas eu entendi que é uma luta inglória. É uma pergunta sem
resposta. Então para quê gastar energia questionando a vida? É melhor
blindarmo-nos antes com uma grande capacidade de aceitação de tudo aquilo que
nós não podemos controlar.
Permitam-se sentir todas as emoções
negativas. Dor, desespero, tristeza, impotência, revolta. Gritem se tiverem
vontade de o fazer. Chorem como se não houvesse amanhã. Temos o direito de
sentir tudo isto. Somos dotados com a capacidade de sentir - é um direito nosso
exprimir as nossas emoções - não abdiquem dele.
O ser humano é tão frágil quanto é
forte. E é por isso mesmo que nós nos conseguimos reerguer das atrocidades que
a vida nos faz. Nunca mais seremos os mesmos. Isso não. Não seria possível. Mas
com alguma resiliência podemos nos tornar pessoas melhores do que éramos antes.
Mais fortes. Mais destemidas. Quando nós aceitamos a perda, uma luz acende-se dentro de nós. Uma luz que nos traz a notícia de que sobrevivemos.
E se sobrevivemos a uma dor tão
profunda, poucas coisas daí em diante nos derrubarão.
JB