Sonhos de criança. Planos
radiosos para um futuro não menos brilhante. Tantos traçados e esboços… A “maquete” da vida que falta
cumprir-se.
Quase sem dar por isso, a
criança cresce. Os traçados e os esboços ficam no papel. A “maquete” já não
serve. Ficou moribunda. Sobram os destroços. Sobram as dúvidas, as incertezas.
Aos magotes.
E sem darmos conta, voltamos ao “quarto escuro” da infância,
quase sempre habitado por criaturas fantásticas e inóspitas quando a iluminação
se ia. É mais ou menos esta a sensação de se ter falhado um objetivo. E a
sensação suscita a questão - Onde falhei? Serei, como uma das personagens de
Eça, um «falhado da vida»?
Permanecer no escuro não é
opção, esperar que alguém venha acender a luz também não. Desta vez é nossa
responsabilidade procurar o interruptor. Procuramos e (ainda) vamos encontrando.
E a vida corre, em sulcos irregulares.
Renasce
a esperança, engrossa a vontade de procurar, de lutar, de vencer.
Esta espécie de confiança no amanhã (que teima em não chegar rápido) mantém-nos
à tona da água. E a azáfama recomeça, traçam-se novos esboços, novos planos.
Criam-se novas “maquetes”.
Nestes
constantes recomeços vamos construindo a nossa manta de retalhos. Está
longe de ficar completa. E ainda bem! É sinónimo de que a caminhada ainda não terminou, que a seguir ao negro do quarto vem
(quase sempre) o brilho de uma luz, ainda que ténue. Porque o escuro é um lugar
frio e gostamos de nos sentir quentes. Porque
manter os olhos no abismo é perigoso e urge combater o que nos impele para
ele (Nietzsche dizia que “quando olhamos prolongadamente para um abismo, o
abismo começa a olhar para nós”).
Viramos costas e tentamos
de novo. Vamos em busca do próximo retalho. E que a nossa história seja interminável enquanto dure. Porque,
como diz o poeta, “o sonho comanda a vida”. Seremos na verdade sonhadores
inveterados? Andaremos todos, feitos cavaleiros andantes (e errantes), em busca
da nossa terra encantada? Por mim, digo que sim. Porque todos temos sonhos.
Texto Escrito por Ariel
B. L
Excelente, é só o que posso dizer. Permanecer no escuro não é realmente uma opção. Quem quer viver tem de ir à procura da sua própria luz. Muito bom artigo!
ResponderEliminarA fusão das imagens com esta dose de fantasia e realidade na medida certa, tornam este texto espetacular. Parabéns!
ResponderEliminarOs erros são irrelevâncias. Viver, erguer é o caminho. Lutar sempre.
ResponderEliminarBem verdade, se bem que há sonhos que não foram feitos para se realizarem. Já pensou nisso? Se fossem, não seriam impossíveis. E muitos que são até humanamente impossíveis. O sonho é subjectivo. É a nossa bengala nesta vida, mas não podemos entrar em mundos ilusórios. Esses têm de ficar na infância, onde não distinguimos a realidade da fantasia. Parabéns pela escrita.
ResponderEliminarE por vezes não se falha mesmo a vida toda? Pense nisso. Gostei de ler o texto, mas a realidade é bem mais difícil do que descreve.
ResponderEliminarA vida é um trilho desconexo e cheio de repetições. Por vezes, essas repetições são os nossos erros. Viver custa, cansa e não tem muito de fantasioso...
ResponderEliminarPelos comentários anteriores parece-me que vai aqui uma grande dose de pessimismo. Não podemos pensar assim, não pelo menos quem quer realmente viver. As nossas “mantas de retalhos” são lindas e únicas porque são as nossas. As que construímos. Com mais erros do que este ou aquele, ou menos erros, é a nossa história. Se estivermos de consciência tranquila, vamos sempre orgulhar-nos dela. Gostei muito de ler mais esta crónica.
ResponderEliminarNão considerando pessimismo, considero que a vida azedou os nossos sonhos. Eram açucarados, agora estão amargos. É talvez a pior crise. Deixar de sonhar é a morte certa. Sonhem muito e lutem, o prazer de o fazer dá paz à alma.
ResponderEliminarBoas noites. Muito porreiro isto que escreves. Seguir é o caminho. Erguer a cabeça e continuar a fazer a nossa manta :)
ResponderEliminarora nem mais!
EliminarUm texto que dá que pensar. Que nos leva ao paraíso da infância. Em que nos era permitido sonhar e em que o nosso maior medo era uma luz apagada. Julgo que terminar a “manta de retalhos” é o mais difícil. As lutas diárias enfraquecem o espírito e o corpo. Mas, paralelamente, não tenho duvidas que o prazer da luta, do trilho é deveras compensatório e suficiente para reaver as forças perdidas. Um texto com muita alma e qualidade.
ResponderEliminarEnquanto estamos vivos, temos sempre esperança, é da nossa natureza ser assim, o ponto de vista da autora é o real para quem quer viver.
ResponderEliminarPor vezez as coisas não são simples, mas valem a pena
ResponderEliminarQuando só há nevoeiro e escuridão é difícil continuarmos a costurar a nossas mantinhas, mas se tivermos paciência, o sol volta a brilhar. MUITO BOM ler esta crónica logo pela manhã. Temos que continuar a marchar, seguir em frente.
ResponderEliminarOra aí está uma bela maneira de começar o dia, com este fantástico blog. E os textos de Ariel são perfeitos, feitos à nossa medida. À medida do ser humano. Muito bom.
ResponderEliminarGostei bastante deste artigo. Dá muito que pensar sobretudo nos dias de hoje em que temos de cair e levantar algo que ajusto à criança com medo do escuro e pra quem cuja luz resolve os problemas.
ResponderEliminarA vida é realmente mt irregular, mas qdo tamos no escuro e' determinante procurar a luz, sem medo. Gostei muito da crónica! E o título está muito bem :)
ResponderEliminarexcelente!!
ResponderEliminar;) gostei, muito bem escrito. #hope #faith #achieve Há que ter raça, até na vida!
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