quinta-feira, 18 de junho de 2020

Emoções do Covid

Eu sempre digo que eu sou alérgica a pessoas stressadas e tóxicas. Drenam a minha energia. Não me fazem sentir bem. Até eu mesma me tornar uma, quando me vi confrontada com as contingências de um vírus que rapidamente se tornou numa pandemia.
Como lidaram com o confinamento? Digam-me como estão a lidar com esta nova realidade. Para mim, é nova e desconhecida e terrível.
Antes do Covid ser declarado uma pandemia, eu gozava com a situação. Mal sabia eu o que me esperava! As notícias em Portugal começavam sempre com um jornalista, meio desiludido, a dizer que mais uma pessoa testou negativo no país. Sol de pouca dura. Em poucos dias, vi-me obrigada a estar em casa 24 horas por dia. Ir ao supermercado tornou-se um inferno, sair para correr com a polícia à espreita não é relaxante, não ver a família não é porreiro. Comecei a sentir que eu própria drenava a minha energia. E continua a não ser fácil. Sinto-me exausta emocionalmente. O que eu fazia em menos de 1 hora, agora leva uma manhã inteira entre filas, prateleiras vazias, farmácias a conta gotas. Um pipa de massa em álcool gel (subitamente não há como produzir álcool de 1€), máscaras e luvas. Sair de casa é perturbador. Pelo menos para mim, que cumpro todas as regras: porque eu não quero ser infectada e eu não quero infectar ninguém.
Falta-me paciência. Falta-me concentração. Falta-me poder ir onde eu quiser sem me preocupar com a saúde, sem ter de usar uma máscara.
Como as nossas vidas mudam em pouco tempo...
E para sempre. Acredito firmemente que o vírus está ligado à Mãe Natureza. À forma como nós desrespeitamos os animais. Dizem que mais pandemias irão surgir, também acredito nisso. Nós tramamos a Natureza, ela trama-nos a nós.

Imagem: fellipelli.com.br

Meditar e ler - algo precioso para o meu bem-estar físico e mental - tem sido um desafio e muitas vezes falho nessa tarefa, a tarefa de manter a minha mente sã. Mas alguém tem a mente sã, na era Covid?
As pessoas que vivem connosco ou próximas a nós, pagam a fatura do nosso humor cansado e desgastado e vice-versa.
Digam-me como estão as vossas emoções no Covid.

JB

quarta-feira, 4 de março de 2020

Não amar não é motivo suficiente

Chegámos a uma época em que não amar não é motivo suficiente para terminar um relacionamento. Eu confesso que isto me assusta. Talvez me assuste que um dia também eu me torne assim. Eu acredito que não, mas a atualidade está repleta destas situações, é quase uma epidemia. O amor está doente. Quase moribundo.
Se nós estamos numa relação em que não há amor, devemos perceber que estamos a sacrificar a nossa felicidade e a da outra pessoa. Nenhum dos dois se atreve a dar o passo da separação e isto prolonga-se por anos ou para o resto da vida.
Há muitas pessoas que não se amam, mas permanecem juntas. Casais que vivem numa constante infelicidade e que se impedem de viver a vida que realmente gostariam. Este tema levou-me a procurar a opinião de várias pessoas, de diferentes idades e em diferentes fases das suas vidas e em diferentes tipos de relacionamentos.
Sinto que devo mencionar que eu não tenho experiência pessoal neste tipo de situações, por isso eu pesquisei, eu li muito, eu falei com pessoas que já tiveram ou têm relacionamentos deste género. O amor e as pessoas fascinam-me. Tenho sempre uma espécie de necessidade de compreender a interação entre o ser humano e este sentimento que move o mundo - o amor, ou a falta dele.
Não estou aqui para julgar, mas o assunto intriga-me.
Aprendi que muitas pessoas são emocionalmente dependentes umas das outras, ou um dos elementos do casal é e isso torna a palavra separação bastante assustadora. O medo da solidão, de não conseguir encontrar outro parceiro, são fantasmas que assombram algumas pessoas que estão neste tipo de relacionamento. Aprendi também que há pessoas que não procuram muito mais numa relação do que companheirismo, aquela amizade que é prometida para o resto da vida. Têm interesses comuns, respeitam-se, fazem coisas juntos, só não há é amor. Amor apaixonado. Porque talvez haja outro tipo de amor: o amor que representa a amizade. A amizade é amor. Mas amor sem paixão. Serão as pessoas felizes assim? Verdadeiramente felizes? A minha dúvida reside em saber se realmente estes casais são felizes, são conformados com uma vida sem paixão? Encontram prazer apenas no partilhar a vida a dois, na sua zona de conforto? Sem amor?

Errol F. Richardson

À medida que o tempo vai passando, estes casais vão perdendo auto-estima e viver sem amor e paixão é aceite como o normal. Cria-se o hábito de estarem juntos, somente isso. Ficam acostumados com a vida que têm, partilham os mesmos amigos e têm uma série de rotinas que não gostariam de perder. Consideram que isso seria um grande problema. Sim, isto é mais comum do que aquilo que se pensa. Geralmente, estes relacionamentos ou são muito longos ou são casamentos. Se houver filhos então... A situação torna-se muito mais complicada. O motivo que une o casal (sem amor) é o amor pelos filhos, pelo bem-estar deles, pela estabilidade das crianças. Por vezes, são dois amigos a criar crianças, outras vezes são dois estranhos que se odeiam. Motivos económicos, estabilidade financeira, enfrentar o julgamento da família por um divórcio, e desiludir os filhos parecem ser motivos bastante fortes para manter duas pessoas que não se amam juntas. Estes casais investem dinheiro, esforço e tempo a criar uma zona de conforto, a criar uma família, mesmo quando já não há amor. Em alguns casos nunca existiu. São os já mencionados relacionamentos de amor de amizade, ou diria eu duas necessidades que se encontram e partilham as suas carências. Estas pessoas sentem medo, insegurança e até culpa quando pensam em separação ou divórcio. Outros têm esperança que o amor resolva aparecer um dia.
Eu acredito que cada casal é único e tem a sua própria história. No entanto, é preciso ressalvar que sacrificar a própria felicidade tem um custo emocional muito elevado.

Se estás nesta situação, deixa o teu comentário. Se não estás deixa também. Já sabem, podem manter-se anónimos nos comentários. Todas as opiniões são bem-vindas.
Fica a questão: se não amar não é motivo para terminar um relacionamento, o que será?

English Version

Not loving is Not enough

We have reached a time when not loving is not enough reason to end a relationship. I confess that it scares me. Maybe it scares me that one day I will become one of those people. I don't believe I will, but these days we see it a lot, it's almost an epidemic. Love is sick. Almost dying.
If we are in a relationship but there is no love, we must realize that we are sacrificing our happiness and the happiness of the other person. Neither of them dares to take the step of separation and this goes on for years or for the rest of their lives.
There are many people who don't love each other, but remain together. Couples who live in constant unhappiness and who prevent themselves from living the life they would really like. This topic led me to seek the opinion of several people, of different ages, at different stages of their lives and in different types of relationships.
I feel I must mention that I have no personal experience in these situations, so I researched, I read a lot, I spoke to people who have had or have relationships of this kind. Love and people fascinate me. I always feel a kind of need to understand the interaction between human beings and this feeling that moves the world - love, or the lack of it.
I'm not here to judge, but the subject intrigues me.
I learned that many people are emotionally dependent on each other, or one of the elements of the couple is and that makes the word separation quite scary. The fear of loneliness, of not being able to find another partner, are ghosts that haunt some people who are in this type of relationship. I learned that there are people who don't want much more in a relationship than companionship, that friendship that is promised for the rest of their lives. They have common interests, respect each other and do things together; the only thing that is not there is love. Passionate love. Maybe there is another kind of love: the love that represents friendship. Friendship is love. But love without passion. Will people be happy like that? Truly happy? My question is whether these couples are really happy or just conformed with a life without passion? Do they find pleasure only in sharing life together, in their comfort zone? Without love?
As time goes by, these couples lose self-esteem and living without love and passion is accepted as normal. The habit of being together is created, that's all. They get used to the life they have, share the same friends and have a series of routines that they do not want to lose. They consider that a major problem. Yes, this is more common than you think. Usually, these are either long-lasting relationships or marriages. If there are children then ... The situation becomes much more complicated. The reason that unites the couple (without love) is the love for their children and the concern for their well-being and stability. Sometimes they are two friends raising children, other times they are two strangers who hate each other. Economic reasons, financial stability, facing family judgment for a divorce, and disappointing children seem to be strong enough reasons to keep two people who don't love each other together. These couples invest money, effort and time to create a comfort zone, to create a family, even when there is no love. In some cases it never existed, it's the aforementioned friendship love relationships, or I would say two needs that meet and share their emotional gaps. These people feel fear, insecurity and even guilt when they think of separation or divorce. Others are hopeful that love will (re)appear one day.
I believe that each couple is unique and has its own story. However, it must be noted that sacrificing one's own happiness has a very high emotional cost.

If you are in this situation, leave your comment. If you're not, leave it too. You know you can remain anonymous in the comments. All opinions are welcome.

The question remains: if not loving is not enough reason to end a relationship, what will be?


JB 

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Nova Década

Mais do que num novo ano, nós estamos numa nova década. Quando se faz um balanço, as emoções negativas são as primeiras a virem à mente. Ainda que esta década que agora terminou tivesse sido maravilhosa, os últimos dois anos tê-la-iam sabotado. Nunca a canção dos Xutos me fez tanto sentindo. A vida é de facto sempre a perder.
Eu gosto da passagem do tempo, ela permite-me crescer e evoluir, ela permite-me aprender e conhecer coisas novas, lugares novos, pessoas novas. Envelhecer nunca me assustou e, de todo, eu pretenderia viver para sempre. Foi uma década importante, separei-me de algumas pessoas, uni-me a outras, não viajei tanto quanto gostaria, mas assisti a muitos jogos do grande FCP. Livrei-me de maus hábitos e li muito. Fui a concertos, festivais e vi bandas que eu pensava que nunca teria a honra de ver ao vivo. Eu tive muitas experiências boas. Sou muito grata por isso. Ainda tive a sorte de conhecer pessoas realmente incríveis. Mas, tudo mudou.
Há dois anos atrás, pouco antes do Natal, eu acordava a meio da noite com um telefonema a avisar-me que a minha avó materna tinha falecido. E esta seria apenas a primeira bomba. A avó deitou-se bem. Nada fazia prever. Seguiu-se a minha tia, irmã do pai, outra vez, sem nada fazer prever. Até que, como vocês sabem, o meu pai faleceu em Setembro de 2019. O que não foi exatamente uma bomba, mas sim uma guerra nuclear que nos atingiu. Por vezes, perguntou-me se isto é alguma espécie de brincadeira. Ainda penso que ouço a voz do meu pai, quando falo com a minha mãe por telefone. Outras vezes quase que pergunto à mãe se o pai já está em casa. Sinto-me ainda como que numa linha ténue entre a sanidade e a loucura. Mesmo à beira de terminar o ano mais terrível da minha vida toda, no dia 31 (sim, ontem) eu perdi o meu tio, irmão do meu pai. É preciso dizer que nada o fazia prever, outra vez? Serão necessárias várias décadas para processar tudo isto. Como devem calcular, eu estava a contar os minutos para que o ano 2019 terminasse finalmente.
Como foi o vosso ano? A vossa década? Muitas mudanças? O que esperam para 2020?


Eu espero ter a minha família por perto, neste plano terrestre. Eu quero viajar mais, ler mais, aprender mais. Eu quero o FCP campeão também. Eu quero realizar sonhos. E pelo menos um, eu realizarei. Ele chama-se Steven Tyler. Uma vida inteira à espera de ver este senhor.
É tão importante nunca perder a vontade de sonhar. É essa vontade que nos mantém sãos. Sejam sonhos difíceis ou mais acessíveis, não abdiquem de sonhar os vossos sonhos. É um direito vosso.

Feliz 2020!


JB

domingo, 1 de dezembro de 2019

Porque é tão difícil respeitar as diferenças?

Eu já devo ter escrito sobre esta questão, se não escrevi já o deveria ter feito. Sou da opinião que partilhar emoções e pensamentos ajuda a encontrar respostas para perguntas difíceis.
Vejamos. Eu acho bonito uma pessoa dizer que respeita todos os seres humanos: as suas opiniões, os seus credos, os seus pensamentos, as suas emoções e por aí fora. Isso é tudo muito bonito na teoria. Quando nos vemos realmente confrontados com situações que colocam em evidência as diferenças entre nós e os outros, começam as discussões, os argumentos e, muitas vezes, a coisa corre mal. Corre mal entre amigos, conhecidos, família, colegas – geram-se discussões que, por vezes, são muito complicadas de resolver. Desde uma simples diferença de gostos a grandes diferenças de personalidade, a coisa pode tornar-se séria. Famílias deixam de se falar, amigos discutem, casais separam-se. É bastante difícil lidar com a diferença.
É fundamental haver respeito entre nós e os outros, entre as nossas opiniões e as opiniões dos outros. Não porque os livros e os especialistas em comportamento humano nos dizem que deve ser assim, mas porque nós precisamos de viver/conviver com os outros, somos seres sociais. Bem, eu confesso que não sou assim tão social, e a tendência é a ser cada vez mais seletiva no que toca às pessoas com quem eu interajo. Mas mesmo com um curto círculo de pessoas à nossa volta, há sempre diferenças.

Porque é então tão difícil aceitarmos que somos diferentes?
Porque o ser humano é um ser complexo e muito emocional. De alguma forma, nós gostamos da aprovação dos outros. Quando alguém nos expõe o seu ponto de vista diferente, a nossa tendência é julgar imediatamente. É intrínseco ao ser humano este tipo de comportamento. Nós gostamos que os outros pensem como nós, ajam como nós, sejam como nós. Esses dogmas sobre os opostos não me convencem. Quando alguém concorda connosco, apoia a nossa opinião, nós sentimo-nos valorizados e apreciados. Nós pensamos “esta pessoa gosta da minha personalidade, que bom, eu estou certo, estou a fazer as coisas bem, eu sou um exemplo”. Nós, humanos, somos tão vaidosos, até no carácter. Nós gostamos que gostem de nós e das coisas que nós gostamos. O pior é que, na realidade, nós gostamos que os outros sejam como nós. Quão pretensiosos nós somos.

Eu aprendi, no meu contacto com variadas pessoas, que eu cometo estes mesmos erros. É tão importante ter bondade e disponibilidade para ouvir os outros. Tentar compreender e demonstrar interesse na pessoa que age tão diferente de nós é crucial. Nós podemos ser diferentes e conviver com civismo e compaixão. Mesmo que nós não concordemos com o que é dito, porque não procuramos entender as motivações que estão por detrás daquela posição tão diferente da nossa? Isto eu faço. Eu tento compreender de milhares de maneiras as razões que levam alguém a ser tão diferente de mim. Nem sempre eu sou bem-sucedida, tenho a impressão de que as pessoas entendem este ato como já ele em si um julgamento. Afinal eu estou meio que a perguntar “Porque pensas assim?”. Totalmente errado na minha opinião. É importante entender os outros e para que isso aconteça têm de haver perguntas e respostas. As pessoas têm de estar abertas a dialogar – isto é algo que falta tantas, mas tantas vezes, entre duas pessoas diferentes. As pessoas são seres difíceis, se não estamos preparados para elas, então sim, o melhor é afastarmo-nos.



Mas, antes de terminar este meu desabafo, há algo que eu tenho que frisar aqui: personalidades diferentes são uma coisa. Falhas de carácter são outra. Não são passíveis de ser entendidas e nem devem ser. Há pessoas que realmente não prestam, há pessoas cujas ideologias colidem com as nossas no sentido moral e aí meus caros, não há nada a fazer – essas pessoas teriam de nascer de novo ou reinventarem-se a 100%. Eu não posso sentir respeito por uma pessoa mentirosa e aceitar isso. Sejamos claros quanto a isso. Aceitar as diferentes opiniões, posições ou gostos – tudo bem. Aceitar mentiras, falhas, deslealdade, bem isso não é ser diferente, isso é não ter carácter e isso não deve ser aceite por ninguém. Há pessoas que têm graves falhas na estrutura de todo o seu ser. Atenção a isso.

O que vocês acham que o ser humano pode fazer para ser mais compreensivo com o seu semelhante?

JB

sábado, 23 de novembro de 2019

Compromisso ou Escravidão?

Este é um tema que nos afeta a todos. Os compromissos que temos de assumir perante a sociedade e perante os outros acorrentam-nos, e como nos acorrentam!

Todos os assuntos abordados neste blogue são da minha autoria, mas sempre baseados em inúmeras conversas com amigos, família e até desconhecidos, experiências pessoais e experiências alheias. Dito isto, vamos ao assunto que me traz até vós hoje.

O compromisso de ser boa pessoa, bom filho, bom pai, bom irmão, bom profissional… bom, bom, bom. Temos de ser bons em tudo. O ideal é ser mesmo muito bom. Ou mais do que bom, se for possível. Tudo é um compromisso hoje em dia. Tornamo-nos peritos nisto tudo, menos no essencial – não somos (nada) bons em comprometermo-nos com a nossa felicidade, com a nossa liberdade, com o nosso eu e com as necessidades que ele nos grita o tempo todo. E nós? Fingimos não ouvir. É cómodo e já somos bons em tanta coisa, para que é que temos de nos preocupar em ser felizes? Isso é assim tão importante? Pensemos bem: temos uma casa confortável, um carro bastante porreiro, um emprego que paga as comodidades, toda a gente à nossa volta tem orgulho de nós, então para quê preocuparmo-nos em sermos realmente felizes? Aliás, não será já isto ser feliz? Não, na grande maioria das vezes, não é. Quem o diz? As próprias pessoas, nos cinco segundos em que conseguem olhar para dentro de si mesmas e dizer a verdade, sem medos, nem correntes.
O maior compromisso tem de ser com nós mesmos – este é o mais válido, o mais importante, o único através do qual toda a nossa existência terá (ou não) sentido. Temos a obrigação de nos comprometer com nós mesmos e com a nossa felicidade. Infelizmente é o compromisso no qual mais falhamos. Porquê? Cada um terá os seus motivos, que defenderá com unhas e dentes, que dirão ser motivos válidos e dirão até que são felizes, à sua maneira. Talvez sejam. Talvez haja pessoas que precisam de muito pouco para serem felizes. Por vezes, o melhor mesmo é nem olhar para dentro, é não ver e nem ouvir o que a nossa alma nos pede.
Após muitas conversas e ouvir muitos relatos, percebo que alguns fatores contribuem para que nunca assumamos o compromisso de sermos felizes, eu digo extremamente felizes, não aquela felicidade mundana de quem consegue comprar um carro novo. Eu falo de felicidade real. O contexto social, o contexto económico, as relações familiares, mas o maior e mais predominante, aquele que aparece de mãos dadas com todos estes que eu referi, é a fragilidade emocional. Algo de cura muito difícil.
Ter de agradar a todos, fazer tudo corretamente, não desiludir a família, casamentos falhados mas que têm de ser para a vida, amigos que só gostam de nós pelo que nós parecemos ser e não por aquilo que nós realmente somos, possuir bens para que as pessoas vejam que podem confiar em nós e admirar-nos porque nós somos bem-sucedidos. Sim, de alguma forma o poder e ser bem-sucedido atrai as pessoas, nunca percebi porquê – um dia falaremos disso. Bem, eu poderia estar aqui a enumerar fatores até 2050.
Existe todo este enorme compromisso que assumimos perante o mundo inteiro e falhamos connosco próprios. E não nos importamos. Já chegámos ao ponto onde isso já não importa, desde que tenhamos uma vida confortável. 
Em conversas com pessoas próximas, eu realizei que o medo, o pânico, o terror de tentar ser feliz assombra até os mais audazes. O medo do desconhecido incapacita as pessoas. Trocar o certo pelo incerto. Sair da zona de conforto. Isto levou-me ao título deste artigo: compromisso ou escravidão? Vivemos comprometidos ou vivemos escravos? Já não somos escravos dos senhores das terras, mas somos escravos de nós mesmos. Auto escravizamo-nos. O ponto a que o ser humano chegou assusta-me. Assusta-me tanto.

Image by freepik

Querer ser feliz e fazer disso um objetivo de vida parece algo ridículo de se dizer na sociedade de hoje em dia. Perdeu-se a coragem, a bravura, a lealdade. Venceu a hipocrisia, o fingimento. Vendeu-se a alma ao diabo porque é conveniente aos olhos de alguém, por vezes até aos nossos próprios olhos isso já é aceitável. As pessoas enganam-se a si mesmas e vivem felizes com isso. Seja lá o que eles consideram que ser feliz é.

Deixo-vos com uma metáfora inventada por mim. Ocorreu-me e pareceu indicada para terminar este artigo. Um pensamento que está dentro de tantas e tantas mentes, espalhadas por esse mundo fora.
«Eu não vou deixar o meu sofá de 3.000 euros para dormir no chão de um T0 imundo onde não terei nada, apenas liberdade…»

Bom fim de semana e já sabem: a vossa opinião importa!

JB


sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Quando vai parar de doer?


Não esperem um texto motivacional, inspirador ou positivo. Não esperem palavras bonitas e cheias de força. Se é disso que estão à espera, aconselho-vos a parar por aqui.

Há um mês atrás, por esta hora, eu já estava órfã de pai. Um mês e continua a doer como se tivesse acontecido neste segundo. Os sentimentos continuam inflamados com fúria e revolta.
O pai faleceu por causa de um cancro no estômago silencioso, traiçoeiro e inoperável. Tudo aconteceu em pouco mais de um mês: o diagnóstico, o sofrimento e a morte. Serei breve. O pai começou a sentir-se indisposto no início de Agosto (2019). Ele sempre “vendeu” saúde, no início ninguém pensou tratar-se de algo tão letal. Duas semanas indisposto e após alguns vómitos, o pai foi ao médico – umas coisinhas leves para aliviar o mal-estar no estômago e nenhum exame foi feito. Isto pode soar a uma crítica, mas neste ponto eu já não sei quem culpar ou criticar – toda a gente e ninguém ao mesmo tempo. Eu percebo que por um mal-estar numa pessoa que sempre teve saúde não é propriamente um sinal de alarme, mas já eram duas semanas a sentir-se mal do estômago. A meio do mês de Agosto o pai perdeu quase todo o seu sangue num compulsivo vómito que o levou à urgência e onde soubemos que ele tinha cancro. Um belo de um cancro. O pai ficou muito triste e sentiu-se culpado por não ter ido antes ao médico, os manos e a mãe alimentaram algum tipo de esperança divina ou sobrenatural e eu? Bem, eu já temia que não era apenas uma úlcera e apesar do meu cérebro científico suspeitar há algum tempo que seria de facto cancro, o meu coração de filha incitava-me a ter esperança que fosse algo menos sério. Seguiu-se uma enxurrada de exames – aqui o SNS funcionou sem nada a apontar. Foram rápidos e o pai sempre foi bem atendido e tratado com respeito e seriedade e, claro, prioridade máxima. O cancro era terminal. Já espalhado e era enorme - metade do seu estômago era cancro.
Os médicos que cuidaram do pai não foram 100% sinceros, mas foram 80%. O meu irmão vive na Alemanha e desde o início de Setembro que os médicos pediram à mãe que reunisse os filhos. Falámos por telefone com a médica que estava com o caso do pai e ela disse-nos que seria uma questão de meses, não teríamos mais tempo. O pai não pode fazer tratamentos, o sangue dele estava com níveis assustadores, além de uma severa anemia. Chegaram as dores intensas no estômago, a morfina não estava a ajudar e o pai foi novamente às urgências por causa da dor. E pronto, tudo acabou aqui. A médica cuidou dele como se houvesse esperança, mas não havia e ela acabou por pedir à mãe que chamasse os filhos pois o pai não sobreviveria à noite. E não sobreviveu.
Não que haja tempo suficiente para que se possa aceitar uma sentença desta força, mas um mês? Nós nem conseguimos respirar fundo e o pai já estava sepultado. Estou dormente até hoje. Penso tantas vezes que é mentira, que isto é uma espécie de realidade paralela. Como é que a minha mãe pode ser viúva? O pai morreria de velhice, pelo menos na minha cabeça seria assim.
Sobre o pai… Ele viveu a vida como ele quis. Amigos, família, festa e o seu copo de vinho nunca faltaram. O pai ajudava toda a gente e toda a gente gostava dele. O meu pai amou-me a mim e aos meus irmãos em todos os momentos das nossas vidas. O pai amava sem pedir nada em troca. O pai… o meu pai… o nosso pai… o marido da minha mãe. O centro da nossa família, o centro das atenções, o ex-combatente do Ultramar. Quem vai falar sem parar na noite de Natal? Nunca mais será o mesmo. Nada nunca mais será igual. Tão injusto. Tanta dor. Estamos destroçados, despedaçados, dilacerados. Eu não consigo olhar-me no espelho e pensar que eu já não tenho o pai comigo. Dói demasiado. Isto não vai cicatrizar nunca? Quanto tempo dura esta angústia?
O meu pai era tão amado. Quero deixar aqui o meu profundo agradecimento a toda a nossa família (paterna e materna) que sempre estiveram lá para nos manter em pé quando a única vontade era morrer também. Foram incansáveis. E não apenas na morte do pai, durante o mês em que ele adoeceu estiveram sempre presentes. Os meus tios, os meus primos, os amigos do pai, colegas de trabalho, toda a gente mesmo – o pai nunca esteve sozinho nem na doença e nem na sua morte.
Às pessoas que estiveram do meu lado presencialmente ou do outro lado do telefone o meu obrigado não é suficiente. Eu tenho pessoas tão boas na minha vida, elas trazem um pouco de luz à escuridão que me tem perseguido. Pessoas de quem eu não esperava nada. E também há aquelas de quem eu esperava algo e não obtive nada. O cancro não se pega, não tenham medo que não é contagioso.

A todos aqueles que enfrentam (ou enfrentaram) este monstro o meu abraço sentido de força. O cancro atinge os “inatingíveis”.
Obrigada pelo vosso tempo.


JB

domingo, 15 de setembro de 2019

Quando a vida nos derruba... com estrondo.

Quem nunca foi atingido desta maneira? Tenho sérias dúvidas de que alguém consiga passar por esta vida sem ser abalroado pelas partidas de mau gosto que a vida gosta de pregar. São aquelas partidas muito feias e sombrias que nós sempre achamos que nunca nos vão acontecer.
Já alguma vez se sentiram atingidos desta maneira? Como se tivessem sido atropelados por um camião? E quando tentam levantar-se, ele faz marcha à trás e atropela-vos de novo? É esmagador. Eu venho aprendendo muito sobre este sentimento nos últimos tempos.
Não é fácil manter a clareza no pensamento nestes momentos. Uma pessoa sente-se encurralada, sente-se impotente, sente-se menor do que um grão de areia.

Não venho dar-vos conselhos. Venho apenas partilhar que, apesar de uma dor imensa, intensa e extremamente poderosa, não podemos deixar de acreditar que vida vale totalmente a pena. Sim, vale a pena. Vale a pena viver para experienciar a aventura, o prazer, a amizade, as viagens, vale a pena sentir o cheiro das flores, a brisa fresca no rosto, a música, os livros, o amor.
Há muito tempo que eu parei de questionar os desígnios da vida. Não é que eu não sinta vontade de o fazer, porque eu tenho, mas eu entendi que é uma luta inglória. É uma pergunta sem resposta. Então para quê gastar energia questionando a vida? É melhor blindarmo-nos antes com uma grande capacidade de aceitação de tudo aquilo que nós não podemos controlar.



Permitam-se sentir todas as emoções negativas. Dor, desespero, tristeza, impotência, revolta. Gritem se tiverem vontade de o fazer. Chorem como se não houvesse amanhã. Temos o direito de sentir tudo isto. Somos dotados com a capacidade de sentir - é um direito nosso exprimir as nossas emoções -  não abdiquem dele.
O ser humano é tão frágil quanto é forte. E é por isso mesmo que nós nos conseguimos reerguer das atrocidades que a vida nos faz. Nunca mais seremos os mesmos. Isso não. Não seria possível. Mas com alguma resiliência podemos nos tornar pessoas melhores do que éramos antes. Mais fortes. Mais destemidas. Quando nós aceitamos a perda, uma luz acende-se dentro de nós. Uma luz que nos traz a notícia de que sobrevivemos.

E se sobrevivemos a uma dor tão profunda, poucas coisas daí em diante nos derrubarão.


JB

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

O Perigo De Ser Demasiado Prestável

Há muito que eu quero falar convosco sobre este tema. Longe vai o tempo em que ser prestável era sinal de receber em troca o mesmo tratamento por parte dos outros. Observo que hoje em dia é mais um risco do que uma qualidade! Mas não deixemos de ser prestáveis, por favor, tenhamos apenas muito cuidado com quem o somos.
Antes de transmitir-vos a minha opinião sobre “o ser prestável”, eu assumo já que eu apenas sou prestável para as pessoas que estão no meu coração. Sou educada com toda a gente, mas ser prestável é muito mais do que isso.

O que são pessoas prestáveis?
A meu ver, são pessoas boas, gentis, sempre dispostas a ajudar e até a fazerem as tarefas dos outros. São pessoas calorosas de quem todos gostamos, raramente entram em conflitos, resumindo são pessoas que toda a gente gosta de ter por perto.

Ser prestável pode sim ser um risco. Um risco para si mesmo.
Nos dias que correm as pessoas tendem a abusar de quem é prestável. Isto é tão errado quanto verdade. Ao invés de se ficar agradecido à pessoa que fez algo por nós, hoje em dia as pessoas abusam disso. Vão pedindo sempre mais e mais favores, esquecem-se de agradecer, chegando a um ponto em que já esperam que a pessoa prestável lhe preste vassalagem, como se fosse uma obrigação. Como o ser humano é ingrato e centrado em si mesmo. Quanto mais damos de nós, mais as pessoas querem. Querem mais e mais.
Se és uma pessoa prestável e estás lendo isto tem muito cuidado e presta atenção às pessoas à tua volta, não deixes que abusem de ti e nem que te manipulem. Há riscos emocionais e psicológicos inerentes.
Por inúmeras vezes as pessoas demasiado prestáveis escondem todas as suas emoções, especialmente as negativas, tornam-se ansiosas, sentem-se inferiores, sobretudo perante as pessoas para quem são tão prestáveis e desenvolvem até alguma dependência relativamente a elas. Pessoas prestáveis frequentemente culpam-se a elas mesmas e são exageradamente autocríticas. É emocionalmente desgastante ser demasiado prestável, ainda mais quando não há retorno.


Devemos deixar de ser prestáveis?
Não. Devemos sim cuidar das nossas emoções, do nosso bem-estar. Podemos fazer isto e ainda assim cuidar dos outros, mas sem exageros. As pessoas não precisam de ser cuidadas o tempo todo. Não são eternos bebés. Pratiquem o uso da palavra não sem serem agressivos. É possível ser gentil e dizer não. Não nos podemos deixar esmagar por pessoas que não conseguem olhar para além do seu ego.
Não abdiquem de ser tratados com respeito. Não abdiquem do direito de ser cuidados também.

Conhecem pessoas demasiado prestáveis? Contem-me tudo.



JB

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Os Meus (Estranhos) Hábitos


Todos nós temos hábitos que, no fundo, já são as nossas rotinas pessoais – aquelas coisas que, se não as fizermos, o dia já não corre tão bem (pensamos nós). Eu chamo-lhes “vícios mentais”. São convicções tão fortes que já não sabemos ser de outra maneira.
Venho partilhar convosco sete desses meus hábitos que uns acharão normais, outros dirão que eu sou uma “weirdo”.
1.  Estalo os dedos várias vezes por dia, caso não o faça, sinto que não tenho as mãos relaxadas. É um hábito que irrita as pessoas à minha volta, mas dá-me tanto prazer!
2.  Quando tenho sono, ou regra geral ao final do dia, tenho a mania de coçar o couro cabeludo ao ponto de ficar mesmo irritado. Mais uma vez, eu associo esta prática ao meu relaxamento e bem-estar. Vá se lá saber.
3.  Todos os dias tenho de beber três litros de água, caso não o faça, sinto-me incompleta. Aqui podem rir.
4.  Danço enquanto escovo os dentes. Acho um desperdício de tempo estar dois minutos a escovar os dentes sem fazer nada.
5. Todos os dias tenho uma obsessão por uma música (habitualmente rock) e ouço-a, no mínimo, dez vezes seguidas. Repeat, repeat
6.  Não gosto de estar em casa com a roupa com que ando na rua. Nem que vá a casa por meia hora tenho de vestir e calçar algo confortável. Este hábito é mesmo uma grande obsessão, não consigo evitar porque simplesmente não me sinto bem.
7. Quando saio à noite para dançar, tenho sempre de regressar antes do sol nascer. Fico totalmente desorientada se chegar a casa e já estiver o dia claro. Confunde-me o sistema!

Pois é meus caros, são de facto hábitos muitos estranhos, confesso que tenho mais alguns.
Partilhem comigo os vossos hábitos mais estranhos. Somos todos um pouco weird mesmo!


JB

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Dói Mudar e Dói Não Mudar

Mudar um comportamento, um hábito, mudar de vida, de carro, de emprego ou qualquer outra mudança parece sempre muito difícil. Muitas vezes perdemos a vontade de o fazer pelo caminho.
Há muitas teorias e psicologias sobre o tema e todas me parecem corretas. Como em todos os assuntos que aqui abordo, hoje vou falar sobre como eu me sinto face à mudança. É a minha opinião. É sempre importante ressalvar isso.
Mudar o nosso comportamento é um verdadeiro desafio para o nosso cérebro. Especialmente aquelas mudanças que são para vida, ou pelo menos a longo prazo. Mudar de emprego, comprar uma casa, afastarmo-nos de certas pessoas, deixar de fumar, e por aí fora. Somos criaturas de hábitos, mergulhados em rotinas às quais não gostamos de fugir. As nossa vidas são tipo aqueles roteiros turísticos que se repetem dia após dia e sabe tão bem cumprir essa rotina com sucesso não é? Nada de mal nisso. Eu adoro a minha rotina, desenhei-a para mim e faz-me sentir completa. A nossa rotina faz parte da nossa identidade, por isso é tão difícil mudá-la. Mas, por vezes, é necessário.
A vontade de mudar tem de partir de nós, do nosso âmago. Quando sentimos que algo já não está a fazer sentido na nossa rotina, na nossa forma de estar ou ser, aí é preciso reinar a vontade de alterar o que deixou de nos preencher.
Na hora da mudança chegam os medos, as preocupações, a ansiedade, o stress, começamos a ser assombrados com pensamentos negativos. Tudo isto porque temos medo, muito medo minha gente, de sair da zona de conforto do que é estável. Somos o nosso pior inimigo, alguém duvida? Somos invadidos pelo medo de fracassar ou de, afinal, a mudança não se revelar boa para nós, como havíamos planeado. Enfim, pensamos em todos os motivos e mais algum para não mudar – é basicamente isto. Parece bem mais fácil manter uma vida razoável, sem grandes emoções fortuitas. Parece e é, de facto. Mas, a meu ver, é o que vai destruindo a nossa capacidade de viver e sonhar desmedidamente. Faz-nos perder a espontaneidade, a criança que perdura em nós. Aos poucos desistimos de viver, apenas para subsistir.
É preciso compreender que existem hábitos nas nossas vidas que simplesmente já não fazem sentido. Quando percebemos que determinados comportamentos ou estados de vida já não nos fazem felizes, é sinal que é urgente mudar. E todos já passámos por isso. Ainda que não tenhamos feito nada para alterar o que nos deixa infelizes, já todos sentimos essa urgência em mudar.
Sou da opinião que a mudança é algo gradual, algo que vai crescendo e evoluindo. Já lá vai o tempo (e a idade) em que achava que as mudanças deveriam ser drásticas, radicais mesmo. Comigo nunca funcionou, foi sempre um falhanço total. Exigia isso de mim mesma e quando não conseguia atingir a mudança que almejava, sentia-me um fracasso de pessoa. Talvez a mudança radical funcione para algumas pessoas, não duvido disso, mas para mim não dá. Optei por mudanças pequenas, diárias até, mas que me vão fazendo evoluir de uma forma que me preenche e me faz sentir orgulhosa de mim mesma. Pequenos passos para uns, grandes mudanças para mim. É um caminho mais lento, mas bem mais satisfatório. Todos os dias noto diferenças positivas em mim. E isso faz-me querer ser sempre mais e melhor.
Afinal, não é o destino, mas a jornada que importa.


Pensam muitas vezes no que gostariam de mudar?



JB