Andar um dia inteiro cansa; correr cansa;
trabalhar cansa; cuidar disto e daquilo cansa. Mas nada cansa mais, nada nos
leva tão eficazmente à exaustão como a máscara que se coloca ao acordar e só se
tira… bem, há muitos que nem a dormir a tiram. Esqueceram-se. Já não se lembram
de quem são, mas do que têm de ser.
A máscara cansa mais do que qualquer
esforço físico. Não se diz o que se pensa; diz-se sim quando apetece dizer não;
vai-se onde não se quer. Tudo em prol de fazer alguém feliz ou de corresponder
às expectativas, sendo uma pessoa agradável e acessível. O preço que se paga?
Muito elevado. É como se fizéssemos uma dívida! O preço é um cansaço que passa
do físico para o emocional em pouco tempo. Daqui a perder-se a vontade de viver
é um passo mais curto do que se imagina.
Viver cansa não é? E cansa exatamente
por isso. Porque se desempenha um papel tal e qual como numa novela. Só que, ao
contrário do que se passa no ecrã, o papel representado nunca tem fim. Pensa-se
com cuidado no que dizer. As respostas são ensaiadas. Todo o modo de agir
parece uma coreografia. E que bem que fica. Com o passar do tempo, as pessoas
tornam-se num clone perfeito do papel que escolheram representar.
Não estou a condenar quem o faz, quem
“tem de o fazer”. Afinal, a sociedade não está preparada para deixar as pessoas
serem o que são. Seria um choque! Desconfio que o Universo sofreria um
desequilíbrio sem precedentes se todos resolvessem ser quem são. Viria à tona
que somos todos comuns e mundanos. Que todos temos aqueles dias negros em que o
simples facto de existir dói. Seriam descobertos segredos sórdidos, como por
exemplo: todos temos borbulhas; todos sofremos de gula; todos somos
preguiçosos! Descobrir-se-ia que há em dias em que não temos motivação para ser
pai, mãe, marido, mulher, filha, amiga. Chocante.
Os dias passam, o cansaço acumula-se,
a máscara pesa, mas há quem seja incapaz de a tirar.
Eu não aguentei o peso da minha.
Arranquei-a com todas as minhas forças. Se isso me trouxe mais felicidade? Não.
As pessoas não sabem simplesmente lidar com a verdade no seu estado puro.
Tornamo-nos uns outsiders. Após 5
minutos de conversa acham-nos loucos (no verdadeiro sentido). Mas foi este o
caminho que escolhi trilhar: com poucos amigos, mas verdadeiros e capazes de
ouvir-me dizer a verdade sem entrarem em colapso cerebral. Não é fácil nem
bonito. Mas é necessário. Descobri que a maneira, o tom, as palavras com que
dizemos a verdade podem magoar mais do que o significado do que estamos a
transmitir. Por isso se desejam tirar a máscara, façam-no com cordialidade,
sejam corretos e suaves e pode ser que o Universo não exploda.
JB