Sabem aqueles dias em que parece que o mundo vai
desabafar na nossa cabeça? Pois bem, há dias tive um “desses”. Achei que fosse
mais um dia, mas no minuto em que pus o pé no chão senti que tinha sido
atropelada por um “bulldozer” gigante.
Por mais que tentasse desenhar um sorriso, dar umas
palmadinhas nas minhas próprias costas e repetir um milhão de vezes que tudo se
ia compor, que estava a ver as coisas de forma exagerada, nada parecia
funcionar. O raio do “bulldozer” continuava lá, pesado, a olhar para mim.
Lembrando o título de um livro do escritor Pedro Paixão, “viver todos os dias cansa”. O cansaço pode ser um inimigo forte:
rouba-nos as esperanças, deixa-nos a
preto e branco, adia os nossos sonhos.
Olhamos em volta e vemos um país triste, cinzento. A
esperança parte para outras paragens, tal como as pessoas. Não podemos fazer
(quase) nada. As coisas são o que são.
No meio deste redemoinho de emoções, lá vamos
conseguindo aliviar a pressão da “máquina”, ganhando fôlego, respirando a
compasso. Há dias assim…
Mas sabem que mais? Não podemos baixar os braços.
Todos os dias temos de recomeçar novamente porque assim é feita a vida: de
começos e recomeços, avanços e (alguns) recuos, pausas. E estes são os trilhos
da vida. Temos de percorrê-los, cair, levantar, lavar as feridas e seguir em
frente. Na esperança de encontrarmos nem sabemos bem o quê, mas algo novo,
doce, sem tantos caminhos traiçoeiros. Como o pote de ouro no final do
arco-íris, o oásis no meio do deserto. Assim vamos conseguindo, ainda que com
passos pequenos e leves, fazer o nosso trajeto. Livramo-nos do “bulldozer” e
limpamos a poeira. Endireitamos a face
amarrotada, o corpo cansado e continuamos.
Porque assim somos nós, seres cansados mas
persistentes, desapontados mais ainda assim esperançosos. Porque cada dia é um
dia e o mundo gira. E enquanto tivermos esta convicção está tudo bem.
Afinal, como dizia Shakespeare, nós “somos feitos do
mesmo tecido de que são feitos os sonhos”. Por isso, bons sonhos!
Life and “bulldozers”
Do
you know those days it seems like the world is going to crush in our head? Well,
a few days ago I had one of “those”. I thought it would be just another day,
but the moment I got out the bed I felt like I had been hit by a giant bulldozer.
As
much as I tried to draw a smile , to give a pat on my own back, to repeat a
million times everything was going to be OK, that I was overreacting, nothing
seemed to work. The damn bulldozer was still there, heavy, looking at me.
Remembering
the book title from the writer Pedro Paixão , “living every day is tiring”. Tiredness
can be a strong enemy: it steals your hopes, leaves you black and white,
postpones your dreams.
You
look around you and see a sad, grey country. Hope leaves to other places, and
so do people. There’s (almost) nothing you can do. Things are the way they are.
In
the middle of the swirling emotions you manage to relieve the pressure of the
“machine”, get your breath back and breathe slowly. Some days are just like
this…
But
you know what? You can’t give in. Every day
you must start again because that’s the way life is: full of starts and
restarts, taking steps forward and (sometimes) backward ones, pauses. These are
life paths. You have to walk along, fall down, get up, clean your wounds and
keep walking. Hoping to find something you don’t even know for sure, but
something new, sweet, with less tricky ways. Like the pot of gold at the end
the rainbow, the oasis in the middle of the desert. That way you manage, even
if with small and light steps, to continue walking. You get rid of the
bulldozer and clean the dust. You straight
the “rumpled” face, the tired body, and carry on.
Because
that’s the way we are, tired but tenacious, disappointed yet hopeful. Because
each day is different and the world spins. And if we believe this everything is
alright then.
After
all, like Shakespeare wrote, we “are made of the same material as dreams are
made of”. So, sweet dreams!
Ariel B. L.
Os meus dias são tdx assim :-/
ResponderEliminarO q é um bulldozer? Não tou a entender
ResponderEliminarUm bulldozer é uma máquina pesada, utilizada em demolições, por exemplo. Aqui a palavra foi usada em sentido figurado.
EliminarTambém já vejo na Ariel laivos da desilução com a (des) humanidade a que chegámos, com a blogger. Influência? São a mesma pessoa? O texto é formidável, todos temos dias negros. Mas a sua esperança que tenta impôr no fim parece que já nem você acredita. O mundo está cruel, mas é demasiado negro saber que todos os dias é tortura viver.
ResponderEliminarNão, Margarida. Não somos a mesma pessoa. Eu apenas escrevo alguns textos de tempos a tempos, a convite da autora do blog.
EliminarMuito obrigado pela atenção.
Eliminar1 dia após a morte violenta de R. Williams, acho que já chega de tanta escuridão. A vida, o mundo, tudo é uma desilusão, ok! Mas não temos já que chegue de exposição a este tema ?
ResponderEliminarNo minuto que "pôs o pé no chão". Está a referir-se ao despertar diário? Esclareça-me.
ResponderEliminarSim, Anabela. Estou a referir-me ao despertar diário.
EliminarTexto fantástico. Adoro o que a Ariel escreve. Entendo esses dias. Acordamos mais cansados do que nos deitámos. Parabéns.
ResponderEliminarNo meio deste redemoinho, essas forças de que fala, não existem em quase ninguém. É triste mas é verdade.
ResponderEliminarBem, gosto deste género de artigos muito relacionados com o intríseco e a Ariel é uma escritora muito consciente, que nos tenta fazer ver o lado positivo dos dias negros que todos temos. Parabéns e gostei muito.
ResponderEliminarUma verdade profunda. Viver é um desafio gigante.
ResponderEliminarSou uma adepta rival, mas muito fã da qualidade deste blogue. Gostei da ideia do bulldozer, pois é isso que sentimos. Infelizmente, a sociedade é que nos atropela com tamanha violência. Permita-me um à parte. Pedro "paixão" está com letra minúscula. Sou professora de Português e Francês, não consigo evitar. Não me leve a mal.
ResponderEliminarNão levo a mal e até agradeço a observação, Ester. Foi um pequeno desentendimento com o "Caps Lock". Nomes próprios têm de ser escritos com maiúscula, evidentemente. Agradecida. :-)
EliminarEstamos todos os dias a sentirmos atropelados :-(
ResponderEliminarUm excelente texto, uma forma como todos nos sentimos, há que exorcizar até ao limite o que de mau se passa connosco!!
ResponderEliminarGrande texto! Hoje sinto-me exactamente assim :(
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