quarta-feira, 13 de agosto de 2014

A vida e os “bulldozers”

Sabem aqueles dias em que parece que o mundo vai desabafar na nossa cabeça? Pois bem, há dias tive um “desses”. Achei que fosse mais um dia, mas no minuto em que pus o pé no chão senti que tinha sido atropelada por um “bulldozer” gigante.
Por mais que tentasse desenhar um sorriso, dar umas palmadinhas nas minhas próprias costas e repetir um milhão de vezes que tudo se ia compor, que estava a ver as coisas de forma exagerada, nada parecia funcionar. O raio do “bulldozer” continuava lá, pesado, a olhar para mim.

Lembrando o título de um livro do escritor Pedro Paixão, “viver todos os dias cansa”. O cansaço pode ser um inimigo forte: rouba-nos as esperanças, deixa-nos a  preto e branco, adia os nossos sonhos.
Olhamos em volta e vemos um país triste, cinzento. A esperança parte para outras paragens, tal como as pessoas. Não podemos fazer (quase) nada. As coisas são o que são.
No meio deste redemoinho de emoções, lá vamos conseguindo aliviar a pressão da “máquina”, ganhando fôlego, respirando a compasso.  Há dias assim…

Mas sabem que mais? Não podemos baixar os braços. Todos os dias temos de recomeçar novamente porque assim é feita a vida: de começos e recomeços, avanços e (alguns) recuos, pausas. E estes são os trilhos da vida. Temos de percorrê-los, cair, levantar, lavar as feridas e seguir em frente. Na esperança de encontrarmos nem sabemos bem o quê, mas algo novo, doce, sem tantos caminhos traiçoeiros. Como o pote de ouro no final do arco-íris, o oásis no meio do deserto. Assim vamos conseguindo, ainda que com passos pequenos e leves, fazer o nosso trajeto. Livramo-nos do “bulldozer” e limpamos a poeira.  Endireitamos a face amarrotada, o corpo cansado e continuamos.
Porque assim somos nós, seres cansados mas persistentes, desapontados mais ainda assim esperançosos. Porque cada dia é um dia e o mundo gira. E enquanto tivermos esta convicção está tudo bem.


Afinal, como dizia Shakespeare, nós “somos feitos do mesmo tecido de que são feitos os sonhos”. Por isso, bons sonhos!


Life and “bulldozers”

Do you know those days it seems like the world is going to crush in our head? Well, a few days ago I had one of “those”. I thought it would be just another day, but the moment I got out the bed I felt like I had been hit by a giant bulldozer.

As much as I tried to draw a smile , to give a pat on my own back, to repeat a million times everything was going to be OK, that I was overreacting, nothing seemed to work. The damn bulldozer was still there, heavy, looking at me.
Remembering the book title from the writer Pedro Paixão , “living every day is tiring”. Tiredness can be a strong enemy: it steals your hopes, leaves you black and white, postpones your dreams.

You look around you and see a sad, grey country. Hope leaves to other places, and so do people. There’s (almost) nothing you can do. Things are the way they are.
In the middle of the swirling emotions you manage to relieve the pressure of the “machine”, get your breath back and breathe slowly. Some days are just like this…

But you know what? You can’t give in. Every day  you must start again because that’s the way life is: full of starts and restarts, taking steps forward and (sometimes) backward ones, pauses. These are life paths. You have to walk along, fall down, get up, clean your wounds and keep walking. Hoping to find something you don’t even know for sure, but something new, sweet, with less tricky ways. Like the pot of gold at the end the rainbow, the oasis in the middle of the desert. That way you manage, even if with small and light steps, to continue walking. You get rid of the bulldozer and clean the dust. You straight  the “rumpled” face, the tired body, and carry on.
Because that’s the way we are, tired but tenacious, disappointed yet hopeful. Because each day is different and the world spins. And if we believe this everything is alright then.


After all, like Shakespeare wrote, we “are made of the same material as dreams are made of”. So, sweet dreams!

Ariel B. L.

18 comentários:

  1. Os meus dias são tdx assim :-/

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  2. O q é um bulldozer? Não tou a entender

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    1. Um bulldozer é uma máquina pesada, utilizada em demolições, por exemplo. Aqui a palavra foi usada em sentido figurado.

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  3. Também já vejo na Ariel laivos da desilução com a (des) humanidade a que chegámos, com a blogger. Influência? São a mesma pessoa? O texto é formidável, todos temos dias negros. Mas a sua esperança que tenta impôr no fim parece que já nem você acredita. O mundo está cruel, mas é demasiado negro saber que todos os dias é tortura viver.

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    1. Não, Margarida. Não somos a mesma pessoa. Eu apenas escrevo alguns textos de tempos a tempos, a convite da autora do blog.

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    2. Muito obrigado pela atenção.

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  4. 1 dia após a morte violenta de R. Williams, acho que já chega de tanta escuridão. A vida, o mundo, tudo é uma desilusão, ok! Mas não temos já que chegue de exposição a este tema ?

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  5. No minuto que "pôs o pé no chão". Está a referir-se ao despertar diário? Esclareça-me.

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    1. Sim, Anabela. Estou a referir-me ao despertar diário.

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  6. Texto fantástico. Adoro o que a Ariel escreve. Entendo esses dias. Acordamos mais cansados do que nos deitámos. Parabéns.

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  7. No meio deste redemoinho, essas forças de que fala, não existem em quase ninguém. É triste mas é verdade.

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  8. Bem, gosto deste género de artigos muito relacionados com o intríseco e a Ariel é uma escritora muito consciente, que nos tenta fazer ver o lado positivo dos dias negros que todos temos. Parabéns e gostei muito.

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  9. Uma verdade profunda. Viver é um desafio gigante.

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  10. Sou uma adepta rival, mas muito fã da qualidade deste blogue. Gostei da ideia do bulldozer, pois é isso que sentimos. Infelizmente, a sociedade é que nos atropela com tamanha violência. Permita-me um à parte. Pedro "paixão" está com letra minúscula. Sou professora de Português e Francês, não consigo evitar. Não me leve a mal.

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    1. Não levo a mal e até agradeço a observação, Ester. Foi um pequeno desentendimento com o "Caps Lock". Nomes próprios têm de ser escritos com maiúscula, evidentemente. Agradecida. :-)

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  11. Estamos todos os dias a sentirmos atropelados :-(

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  12. Um excelente texto, uma forma como todos nos sentimos, há que exorcizar até ao limite o que de mau se passa connosco!!

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  13. Grande texto! Hoje sinto-me exactamente assim :(

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