quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Motivações que a razão desconhece…


Muito se tem falado sobre os “jihadistas” e o “Estado Islâmico” e a brutalidade dos ataques por eles perpetrados. Um desses crimes entrou-nos em casa com o vídeo macabro da decapitação de James Foley. Por momentos recusei-me a crer no que os meus olhos enxergavam.
O que pretendem, afinal, estes exércitos de extremistas que ameaçam enegrecer ainda mais o mundo com esta cegueira ideológica, religiosa, política (ou seja ela de que natureza for)? Cheguei à conclusão de que, para tentar entender esta questão, deveria começar pelo princípio (perdoem-me a redundância).

Vejamos…

Islamismo ou Islão é uma religião que se guia pelo Alcorão, o livro sagrado que, segundo os seus seguidores, contém a palavra de Deus (Alá) e os ensinamentos de Maomé (o último profeta de Deus, na crença dos fiéis). A mensagem principal do Alcorão tem por base a existência de um único Deus (Alá), que deve ser adorado.
Jihad é um conceito basilar do Islamismo e significa "luta", "resistência". À luz do islamismo clássico refere-se à luta contra aqueles que não acreditam em Alá. Há também quem lhe dê significados mais amplos. De um modo geral, existe algum consenso sobre o facto de que “jihad” tem, na maioria das vezes, uma associação militar e faz alusão à luta armada.
O Islão encontra-se dividido em dois ramos principais: os xiitas e os sunitas. Esta divisão foi o resultado de lutas ocorridas após a morte do profeta Maomé, em 632. À data não ficou claro quem deveria suceder-lhe à frente da comunidade muçulmana e, daí por diante, outros foram ocupando o lugar de “Califa” (palavra que significa “chefe” ou “representante”). A dada altura surgiram disputas entre duas fações acerca da sucessão e as opiniões dividiram-se. A contestação resultou numa guerra civil entre apoiantes dos diferentes lados e consequente divisão.
Centremo-nos agora no problema atual do fundamentalismo e radicalismo. Tal comportamento parece alimentar-se de uma espécie de obsessão em fazer vingar determinadas crenças em detrimento de tudo o resto, a qualquer custo. Imaginemos este comportamento massificado. Rapidamente nos apercebemos dos perigos que daí poderão advir. Quem consegue apagar da memória o fatídico e terrível dia 11 de Setembro de 2001? 
Abu Bakr al-Baghdadi num aparição recente
Chegamos assim ao foco desta reflexão: o movimento jihadista intitulado Estado Islâmico do Iraque e Levante (ISIS em Inglês). Trata-se de um grupo radical sunita que defende a criação de um estado islâmico e a restauração do “califado”. O seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi, é atualmente o "califa". Este movimento teve origem numa organização terrorista inicialmente formada por Abu Musab al-Zarqawi, morto no Iraque em 2006. Nesse ano o grupo adotou a designação de “Estado Islâmico do Iraque”. Mais tarde, com o envolvimento na guerra civil da Síria, acrescentou o nome desse país à sua designação, usando também o termo Levante, que se refere à região composta pela Síria, Líbano, Israel, Chipre, Jordânia, Palestina e algumas partes da Turquia.
Membros do Estado Islâmico numa parada
O Estado Islâmico é hoje um dos principais grupos jihadistas do mundo. O movimento está a levar a cabo os ataques mais violentos no Iraque desde a retirada militar norte-americana em 2011. Na Síria, tornou-se uma das principais ameaças ao Governo de Bashar al-Assad, controlando parte do território. 

É precisamente na Síria que o movimento garante boa parte dos lucros que financiam as suas atividades militares: recolhe uma espécie de “impostos” nos territórios que estão sob a sua alçada, vende energia elétrica e exporta petróleo de poços dos quais se apropriou.
Outra forma de financiar as suas operações são os resgates pagos por alguns países europeus em troca da vida dos seus cidadãos. Segundo o The New York Times, França, Alemanha, Áustria, entre outros, têm pago avultadas quantias, embora não o admitam. 


Assassinato de James Foley

Sucedem-se as notícias que dão conta da violência praticada pelo Estado Islâmico. O grupo ganhou reputação de extrema brutalidade para com os seus inimigos e todos aqueles que violam o código de sanções previstas pela sharia (a lei islâmica). Crucificações, amputações de membros e decapitações são punições comuns, bem como execuções sumárias que são filmadas e difundidas para vincar ainda mais o horror que pretendem incutir.
O jornalista norte-americano, James Foley
Uma destas terríveis e macabras publicações foi a decapitação de James Foley, jornalista norte-americano, desaparecido na Síria a 22 de Novembro de 2012 e mantido em cativeiro desde então. Nas imagens vemos um homem empunhando uma arma branca, vestes negras e rosto tapado. Vangloria-se das barbaridades em que supostamente acredita e acaba por consumar o crime hediondo, expondo em seguida, de forma monstruosa, o corpo da sua vítima. 
O Estado Islâmico diz ter milhares de membros, incluindo muitos estrangeiros. Isto é grave e preocupante. Tenho dado voltas e voltas às ideias e não consigo perceber como é que jovens nascidos, criados e educados segundo os valores da liberdade e democracia se enredam nestas teias peçonhentas e odiosas e se misturam com estas criaturas medonhas, frias e mercenárias. Em que momento das suas vidas acharam que por este ou aquele motivo deveriam anular o valor da vida humana, das suas próprias vidas quiçá? Falta de perspetivas? Falta de dinheiro? Revolta com a sociedade? Quantos de nós não somos assolados por um ou muitos destes sentimentos diariamente? Muitos certamente. Desde quando a solução para justificar o nosso desencanto passa por integrar grupos que espalham a violência, o terror e ceifam vidas inocentes? É o desejo de “glória”? Que glória pode haver nisto? Que pessoas são estas? Que mundo é este? 

Valemos tão pouco já. E os pretextos são os mais diversos.

Ariel B.L.

8 comentários:

  1. Muito bom artigo, um blog extraordinário e eu nem sem sequer ligo a futebol. É pela outra qualidade que aqui venho. A das notícias, da verdade, da exposição da podridão da sociedade. Apesar de parecer muito difícil, eles só querem duas coisas: aterrorizar e instituir um Estado islâmico. Parabéns.

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  2. Abu Bakr al-Baghdadi já foi líder da Al-Qaeda no Iraque. As pessoas, certamente a sofrer de um determinado grau de ignorância demonstram preocupação com o aumento da violência no Iraque. Como se se tratasse apenas disso!!! RIDÍCULO. O mundo dorme confortavelmente neste pesadelo.

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  3. acho que nos deviamos manter à parte destas guerras, cada um tem a sua religião

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  4. Muito bem escrito, mais uma chamada de atenção de excelente qualidade de um blogue que vai muito além do desporto. Parabéns à autora do texto e do blogue. Toda esta luta sangrenta é desnecessária. Nem eles próprios sabem o que fazer com os ensinamentos que eles alteraram ao longo dos tempos e que teimam em não respeitar. Não podemos permitir que por ser uma "religião" o mundo se destrua. Somos todos iguais e vimos todos do mesmo lugar!

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  5. Estou chocada. A forma como eles se apropriam do das coisas para terem €. Não há leis no Iraque? O que andou os us lá a fazer? Onde vai isto parar?

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  6. Mas quem disse a este Abu que é califa? Não entendi.

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  7. Mas estas novas facções iraquianas não tiveram nada cm o 11.09.2001 pois não?

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  8. Que relato impressionante! Parabéns, infelizmente por um assunto tão triste :(

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