Membros da brigada islâmica Misarata disparam contra o aeroporto de Tripoli numa tentativa de
tirar o controlo a uma poderosa milícia rival, em Tripoli, Líbia, 26 de Julho,
2014.
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À medida que os governos
por todo o mundo encerram as suas embaixadas e saem da Líbia, no meio da
violência e anarquia que se apoderou do país, é importante não perder de vista
o papel da NATO em aprovisionar um estado falhado que agora voltou para
hostilizar toda a gente.
Foi há três anos – Março
de 2011 – quando, entre a revolta pela morte de civis às mãos das forças de
Muammar Kadhafi, a NATO
lançou um bombardeamento de sete meses na Líbia para proteger os cidadãos. A
operação rapidamente resultou na mudança do regime e, durante o conflito, 260 aviões
de combate fizeram mais de 26,000 missões, largaram 20,000 bombas. Mais de 200
mísseis cruzeiro foram lançados contra alvos Líbios e muitos civis foram mortos. O Canadá teve o seu
papel na missão. Emprestou alguns CF-18 que fizeram mais de 900 ataques e
largaram quase 700 bombas.
Quando tudo terminou, em
Outubro, o fraco exército de Kadhafi tinha sido destruído, o ditador estava morto
e os países da NATO davam palmadinhas nas costas por terem libertado a Líbia de
um tirano malvado. Nas suas mentes foi um trabalho bem feito e, em Ottawa,
realizou-se uma parada militar para assinalar a vitória.
“Um novo recomeço para a
Líbia está no horizonte e nós ajudaremos a que seja alcançado” disse o primeiro-ministro britânico David Cameron, um dos principais apoiantes da guerra, à
medida que as bombas caíam.
E depois acrescentou,
enquanto a tão apregoada nova era despontava: “A Primavera Árabe está um passo
mais longe da opressão e da ditadura e um passo mais próxima da liberdade e da
democracia… Nós ajudámos o povo Líbio a libertar-se e agora temos em perspectiva um novo parceiro a Sul do Mediterrâneo.”
Mas assim que os aviões de
combate da NATO deixaram os céus da Líbia, o verdadeiro legado dos benfeitores
ocidentais no terreno foi uma realidade totalmente diferente. Para as pessoas
deixadas para trás a sofrer as consequências seria um pesadelo.
Primeiro, a cidade de
Benghazi, cuja situação difícil durante a revolta líbia desencadeou a acção da
NATO, é agora o epicentro da violência e anarquia que tem destruído o país. Os
mesmos rebeldes que agradeceram a interdição do espaço aéreo imposto em
Benghazi com preces de “obrigado NATO, obrigado América” são, alegadamente, membros
do grupo que atacou o consulado dos EUA na cidade, matando o embaixador
Christopher Stevens e mais três americanos. Milícias fortemente armadas
ocuparam territórios e o recomeço idealizado por David Cameron reflectiu-se numa
onda de raptos, assassínios, violações e decapitações que agora assola o país.
Mais de 200 pessoas morreram devido aos vários confrontos das várias milícias
pelo controlo do território. Vários países têm tentado desesperadamente evacuar
os seus cidadãos. Não é bom sinal para o futuro quando os libertados perseguem
os libertadores. O suposto governo é demasiado fraco para fazer alguma coisa,
considerando que tanto o Primeiro Ministro como os líderes políticos podem ser
raptados à vontade.
Ainda mais grave é o
resultado do falhanço da NATO em assegurar o controlo das armas deixadas para
trás depois da queda de Kadhafi. Sem uma autoridade central forte, vários
grupos rebeldes e milícias arrecadaram o que consideraram como despojos da
guerra, sendo a Al-Qaeda no Magreb Islâmico a maior beneficiária. As armas
estão a ser usadas não só para causar problemas na Líbia, mas também para
fomentar a violência no Mali, Nigéria, Chade, Somália e Norte da Nigéria. A
maior ironia é que a operação da NATO, que pretendia promover a liberdade e
democracia na Líbia, acabou por fortalecer a Al-Qaeda.
A Líbia desapareceu das
manchetes mas o que a NATO nos diz é que o Ocidente nem sempre tem as respostas
e soluções. E às vezes tem de o admitir. Uma chuva de bombas, lançada da
segurança de um avião de combate ou de um navio, sobre um exército pobre é a
parte mais fácil. A parte difícil é gerir o desagradável pós-guerra. Os países
da NATO saíram da Líbia há muito, mas à medida que o país caminha para a
anarquia poder-se-á tirar uma lição importante para todos: as bombas não
compram a liberdade ou a democracia.
Mohammed Adam
Eu admiro o seu interesse e sabedoria por estes assuntos, mas confesso que não tenho a mínima ideia do que se passa... E possivelmente tenho idade para ser sua mãe. É vergonhoso, mas é a verdade. Calculo que a sua família tenha em sim um imenso orgulho. Obrigado por fazer chegar até nós estes artigos.
ResponderEliminarnão posso comentar, não domino mesmo o assunto :\ por mais estúpido que possa parecer...
ResponderEliminaros responsaveis?
ResponderEliminarTudo isto porque em tempos Kaddafi quis começar a vender petróleo em Euros!??? Não entendo esta cena
ResponderEliminarandam lá a meter o nariz e a chafurdar no petróleo para se orientarem. E quando é que há eleições?
ResponderEliminarHá pessoas realmente... Isto já nada tem a ver com o petróleo, mas sim com o controlo que os extremistas querem ter em diversos países árabes. Parabéns pelas chamadas de atenção. Não sou portista, mas sigo o blogue e é incrível como é uma pessoa tão, mas tão inteligente e sensível aos problemas do mundo.
ResponderEliminarUm conflito que se formos a ver bem qual é o fundamento? Quantos existem no médio-oriente, alguma explicação passível de ser ouvida?
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