Fiquei apaixonada pelos artigos de Mohammed Adam. Espero que gostem e partilhem. Vale a pena.
A facilidade com que o mundo esquece. Só passaram três
meses, mas já parece uma eternidade desde que mais de 200 meninas nigerianas
foram raptadas da escola na calada da noite pelo violento grupo Boko Haram.
Vigílias e marchas pelo mundo inteiro marcaram os 100 dias de cativeiro das
meninas e o presidente nigeriano Goodluck Jonathan finalmente saiu da sua
concha para conhecer os pais das raparigas raptadas. Suponho que devemos
agradecer a Deus pelas suas pequenas graças. O anterior Primeiro Ministro
britânico Gordon Brown, no papel de embaixador da ONU, tentou manter acesa a
esperança pelo regresso das meninas no assinalar da data, mas as suas palavras
não foram sinceras.
“O mundo não esqueceu estas meninas. Não em 100 dias. Nem
por um dia”, escreveu Brown.
Sim, esqueceu. A indignação universal provocada pelo rapto e
o esforço massivo para mobilizar a comunidade internacional a confrontar os
terroristas e resgatar as raparigas dissipou-se.
Os governos ocidentais falaram severamente, prometeram à
grande mas no final fizeram muito pouco para ajudar a salvar as meninas. Uma
campanha mundial intitulada “ Tragam de volta as nossas meninas” levada a cabo
por líderes políticos e religiosos e celebridades alastrou-se aos vários continentes
e mobilizou as pessoas. Havia esperança, mas durou pouco. Assim que os rostos
tristes que tocaram os nossos corações desapareceram dos ecrãs das televisões,
a revolta desapareceu e os governos passaram à próxima crise em destaque,
promessas esquecidas. As pessoas voltaram às suas vidas atarefadas e a campanha
“Tragam de volta as nossas meninas” esfumou-se. Mais de 200 raparigas são
chocantemente raptadas e o mundo só o que faz é derramar uma lagrimazita,
depois encolhe os ombros e segue em frente. É difícil imaginar o horror com que
estas raparigas são confrontadas a cada momento que passa. O terror, a
impotência e o sentimento de abandono devem ser excruciantes. Mas apesar da
preocupação e tristeza das pessoas em todo o mundo, não podemos simplesmente
marchar para a floresta nigeriana e resgatar as raparigas. Essa é a responsabilidade
do governo e o fracasso é todo do suposto governo da Nigéria. E este fracasso
levanta a questão fundamental da utilidade do governo, em muitas partes de
África.
Ditadores e políticos ganham eleições, influenciam-nas ou tomam conta
do poder, tudo em nome do povo, mas uma vez lá, só se preocupam consigo
próprios. Alguns roubam os cofres do estado, deixando a larga maioria da
população empobrecida. Outros escoamentos continuam, dos vastos recursos
naturais como o petróleo, ouro e madeira para as contas bancárias pessoais. E
ainda alguns transformam os seus países em ditaduras, prendendo, torturando e
matando os seus. Agora temos um governo que mostra pouca preocupação com a
segurança das suas crianças.
Seria inconcebível que uma criança desaparecesse no Canadá
ou, suponhamos, na Alemanha e a máquina do governo não fizesse tudo ao seu
alcance para encontrar esse único ser humano. No entanto, mais de 200 crianças
desapareceram há três meses e o presidente nigeriano nem sequer se dá ao
trabalho de conhecer os pais em sofrimento, até que a adolescente paquistanesa
e defensora das crianças Malala Yousafzai o pressiona. A Nigéria tem o maior
número de soldados da Áfric a ocidental e igualmente numerosas forças policiais
e de segurança. Contudo, várias partes da zona nordeste do país tornaram-se
áreas proibidas para as forças governamentais. O Boko Haram aterrorizou as
forças militares e de segurança, deixando vilas e cidades à mercê de
carniceiros frios. Desde o rapto, muitas pessoas, incluindo os pais de sete das
meninas raptadas, foram mortas pelos terroristas. Quando os habitantes pedem
ajuda, sob ameaça, o governo ignora-os. A corrupção cresce e os soldados, com
pouco armamento, mal pagos e desmotivados, têm pouca ou nenhuma vontade de
colocar as suas vidas em perigo.
O que está a acontecer na Nigéria é sintomático dos governos
em muitas partes de África: servem-se a si próprios, sem se preocupar e sem ter
orientação. Não é surpresa que os cidadãos estejam desesperados. Quanto às
meninas, infelizmente o pesadelo continua. Tudo o que o resto de nós pode fazer
é continuar a rezar por um milagre.
Mohammed Adam é um escritor de Ottawa.
Escrito por:
MOHAMMED ADAM
não digas isso, eu nunca me esqueço :(
ResponderEliminarConheço Mohammed Adam, conheço a sua escrita. É absolutamente fantástica. Já viu as últimas crónicas? Junte-se a ele no combate às injustiças sociais. Bom trabalho.
ResponderEliminarHalf of Nigeria are Muslims and protests have been made and done for these girls but CNN only covered it for a few days a couple moths ago then stooped because none really seems to care what happens in Africa. Militias have also been formed by the Nigerians who continue to look for the girls at the risk of their own lives.
ResponderEliminarParabéns por esta força incansável da autora do blog. Só posso dizer: orgulho de ter alguém assim na família Portista!!
ResponderEliminarQue jovem se interessa tão efusivamente por estes assuntos? É um orgulho para o nosso país, um exemplo para a nossa juventude.
ResponderEliminar:( o mundo esquece, os interesses políticos falaram mais alto. O mundo já não se preocupa... é o fim..
ResponderEliminarNão houve figura pública que não usasse o típico cartaz #BringBackOurGirls. Umas despiram-se, outras escreveram nas mamas, uma verdadeira sessão de nudismo. Estas campanhas nojentas que não ajudam em nada, mentes pardas que não sabem do que se passa no mundo.
ResponderEliminar"Longe da vista, longe do coração", parece que o ditado se aplica! Felizmente há pessoas que ainda não esqueceram. Ninguém deveria esquecer. É vergonhosa a forma como (não) se lida com situações graves como esta.
ResponderEliminarGrande grande senhor! Grande verdade. Um luxo ter aqui este texto. Blog de elevada qualidade, uma jovem com visão, que tem definitivamente uma inteligência soberba!
ResponderEliminarTanta verdade num curto espaço!! Grande texto!
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